Healthnews (HN) – Quais os principais objetivos do projeto AGEWISE e como ele pretende contribuir para a compreensão da relação entre a menopausa, o microbioma intestinal e as hormonas sexuais femininas?

Ana Santos Almeida (ASA) – O projeto AGEWISE tem como objetivo colmatar lacunas essenciais no conhecimento sobre a interação entre a menopausa, o microbioma intestinal e as hormonas sexuais femininas. Pretende revolucionar a deteção precoce e a gestão de condições crónicas associadas à menopausa, através de avaliações personalizadas de risco. O projeto visa avançar na promoção da saúde da mulher durante o envelhecimento, contribuindo para uma melhor compreensão e bem-estar das mulheres nesta fase da vida.

HN – Qual é o papel do microbioma intestinal na saúde das mulheres durante a menopausa, e como ele afeta os níveis de estrogénio no corpo?

ASA – O microbioma intestinal é um ecossistema de biliões de microrganismos essenciais para a saúde. Estudos demonstram que a sua composição está ligada a diversas doenças, como obesidade, doença inflamatória intestinal, cancro colorretal, depressão, diabetes e doenças cardiovasculares. Nos últimos anos, o impacto do microbioma intestinal na saúde das mulheres tem-se tornado um campo de investigação em rápido crescimento. Durante a menopausa, a redução abrupta dos níveis de estrogénio provoca alterações significativas no microbioma intestinal. Por outro lado, o microbioma intestinal tem também uma função de destaque no processamento do estrogénio, o que afeta os níveis desta hormona no organismo da mulher, especialmente na menopausa. O desequilíbrio do microbioma intestinal, induzido pelas flutuações hormonais da menopausa, está implicado em várias alterações associadas a esta fase, incluindo um risco aumentado de doenças cardiovasculares, perda de densidade óssea e modificações na função cognitiva. As escolhas de estilo de vida, incluindo a dieta, podem resultar numa mudança positiva do número e tipo de bactérias intestinais, potencialmente reduzindo o risco de doença nas mulheres pós-menopausa. Apesar destes avanços, persistem lacunas significativas no conhecimento sobre a influência da menopausa no microbioma intestinal e as suas implicações para a saúde e riscos de doenças.

HN – Como a Inteligência Artificial será utilizada no projeto para analisar dados biológicos e de estilo de vida, e quais são as expectativas em termos de resultados?

ASA – A Inteligência Artificial será utilizada para analisar dados biológicos e de estilo de vida, criando perfis de risco personalizados. A previsão destes perfis permitirá intervenções precoces e mais eficazes na saúde da mulher durante e após a menopausa.

HN – De que forma as escolhas de estilo de vida, como dieta e exercício, podem influenciar o microbioma intestinal e, consequentemente, a saúde das mulheres pós-menopausa?

ASA – As escolhas de estilo de vida, como a alimentação e o exercício físico, têm um papel fundamental na modulação do microbioma intestinal e na saúde das mulheres durante e após a menopausa. Uma dieta rica em fibras, polifenóis e gorduras saudáveis promove a diversidade microbiana e favorece a produção de metabolitos benéficos, ajudando a regular a inflamação e o metabolismo. O exercício físico também tem um impacto positivo, contribuindo para uma microbiota mais equilibrada, reduzindo a inflamação e melhorando a saúde metabólica e cardiovascular. Assim, manter uma alimentação equilibrada e praticar atividade física regularmente pode ajudar a preservar a saúde intestinal e mitigar os efeitos da menopausa no organismo.

HN – O projeto AGEWISE pretende desenvolver ferramentas inovadoras de diagnóstico. Pode detalhar como essas ferramentas podem revolucionar a deteção precoce e a gestão de doenças relacionadas com a menopausa?

ASA – O projeto, iniciado em outubro de 2024, encontra-se na fase de desenvolvimento destas ferramentas inovadoras.

HN – Quais são as perspetivas futuras para o projeto AGEWISE, e como os resultados podem ser aplicados na prática para melhorar a saúde das mulheres durante o envelhecimento?

ASA – Com cerca de 50 milhões de mulheres a entrarem na menopausa anualmente, a investigação nesta área é essencial. A menopausa está associada a níveis reduzidos de estrogénio e a um aumento da inflamação, fatores ligados a doenças cerebrais, ósseas e cardiovasculares. O projeto AGEWISE pretende fornecer dados e ferramentas que permitam intervenções mais eficazes, contribuindo para a melhoria da saúde e do bem-estar das mulheres durante o envelhecimento.

Equipa de investigação:

O Laboratório Translacional de Microbioma na Saúde e Doença do GIMM-CARE, liderado pela Prof. Ana Santos Almeida, é constituído por uma equipa interdisciplinar, dinâmica e altamente colaborativa de microbiologistas clínicos, biólogos computacionais, nutricionistas e gastroenterologistas. O laboratório dedica-se a explorar o potencial do microbioma para revolucionar a área terapêutica do cancro colorretal. A nossa missão é desenvolver ferramentas inovadoras de diagnóstico e bioterapêuticas baseadas no microbioma para promover a saúde.

Este projeto conta ainda com a colaboração da Prof.ª Ana Teresa Freitas, do Instituto Superior Técnico / INESC-ID, especialista em biologia computacional, genómica, e medicina preventiva.

Entrevista HN/MMM