
Em declarações à agência Lusa, Rita Rodrigues, investigadora da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (FMDUP), afirmou hoje à Lusa que a ideia de criar a ‘Cleft Toothbrush’ surgiu em 2012, quando conheceu um menino com fenda lábio-palatina (uma malformação congénita da face) e assistiu à cirurgia estética que lhe reestruturou o lábio (queiloplasia).
À semelhança do que acontecera em 2006, quando decidiu criar uma escova de dentes adaptada a jovens com paralisia cerebral, Rita Rodrigues voltou a desafiar-se a criar “algo que contribuísse para a higiene oral”, que fosse facilitador de cuidados, mas que também tivesse “impacto social”.
“Este trabalho está para além do produto, de um simples produto. Quisemos criar algo que realmente tivesse impacto social. Uma das preocupações não é que o produto chegue à mão do utente como um produto, mas que chegue como algo que foi desenvolvido para a pessoa e customizado para a pessoa”, frisou.
A escova, desenvolvida em 2016 por uma equipa de médicos especialistas em cirurgia pediátrica, dentistas e investigadores, visa assim “uma maior eficácia e melhor eficiência na escovagem dos dentes” de indivíduos com fenda lábio-palatina, malformação que afeta, em média, um em cada 700 indivíduos a nível mundial.
“Este é um instrumento desenvolvido para desorganizar a placa bacteriana nos dentes adjacentes à fenda lábio-palatina. Poderá ainda ser utilizada em indivíduos acometidos de lesões da cavidade oral por traumatismo ou sequelas de patologias, onde o rebordo alveolar (estrutura que aloja as raízes dos dentes) possa apresentar uma descontinuidade do tipo que se observa nas fendas”, esclareceu.
Segundo Rita Rodrigues, o instrumento desenvolvido permite ainda “a otimização do uso da escova dos dentes”, na medida em que ao tratar-se de um adaptador não “interfere nem implica o desgaste” da escova convencional.
À Lusa, a investigadora avançou que a escova já foi testada em 60 crianças, entre os 2 e os 12 anos, e que estas se sentiram “mais confiantes”, pois conseguiram “higienizar melhor as áreas mais sensíveis sem magoarem essa zona”.
Neste momento, a equipa já está a negociar com uma empresa suíça para industrializar e, consequentemente, comercializar a escova adaptada.
“Fizemos uma pesquisa do que havia no mercado, fomos lá, estudámos as hipóteses, mas realmente não encontrámos em Portugal nenhuma empresa que respondesse aos requisitos que nós queríamos, tanto técnicos como temporais (…). Fomos ao mercado global e encontramos na suíça uma empresa que foi capaz de responder aquilo que pretendíamos, que era ter brevidade e características especificas”, concluiu Rita Rodrigues.
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