Este financiamento de 300 mil euros (mais precisamente 305 100 euros) permitiu o regresso da investigadora a Portugal para estudar o desenvolvimento cerebrovascular de recém-nascidos. Através do uso de técnicas de imagem cerebral funcional de ponta, e também de microscopia de alta resolução, a investigação pretende aprofundar o conhecimento sobre o desenvolvimento da unidade neurovascular durante o período neonatal, que pode contribuir para melhorar o diagnóstico e tratamento de patologias cerebrais em recém-nascidos.

Em concreto, o projeto de investigação “Desvendar a mudança neonatal no acoplamento neurovascular: uma abordagem multimodal” foca-se no estudo do desenvolvimento da comunicação entre os vasos sanguíneos e os neurónios, necessária para a obtenção de energia e oxigénio, cruciais para o bom funcionamento cerebral. Esta investigação pré-clínica vai ser realizada em murganhos recém-nascidos, através da "análise da resposta cerebrovascular após estimulação neuronal, recorrendo a várias metodologias de neuroimagem que irão ser complementadas com análise molecular", contextualiza Vanessa Coelho-Santos.

A imagem cerebral funcional é «uma valiosa ferramenta não invasiva amplamente utilizada em estudos do cérebro na área da saúde, que se baseia no fluxo sanguíneo e no estado de oxigenação para fornecer informações sobre a função cerebral, e desempenha um papel importante para detetar problemas e lesões no cérebro do recém-nascido e na previsão de alterações do neurodesenvolvimento a longo prazo associadas a essas lesões», explica a investigadora da UC.

"Curiosamente, em recém-nascidos, há uma discrepância na resposta cerebrovascular quando comparada com adultos, o que dificulta muitas vezes o diagnóstico e caracterização de patologias", elucida Vanessa Coelho-Santos. Até ao momento, «existe uma lacuna no conhecimento para explicar esta discrepância que precisa ser abordada para uma melhor compreensão dos dados de imagem cerebral funcional", contextualiza a investigadora. Explicar o que está na origem desta mudança pode vir a permitir "intervir em patologias quando este acoplamento neurovascular fica comprometido não só durante o desenvolvimento, mas em outras patologias tais como na doença de Alzheimer ou num Acidente Vascular Cerebral", acrescenta.

Com esta investigação, que vai estar em curso até ao final de 2025, a equipa coordenada por Vanessa Coelho-Santos pretende "avançar com conhecimento que pode abrir caminho para estudos de biomarcadores para uma eficaz identificação de lesões ou outros processos adversos que podem inviabilizar o desenvolvimento normal do cérebro, podendo vir a ter impacto num diagnóstico precoce e tratamento de patologias cerebrais neonatais, como a paralisia cerebral ou doenças do neurodesenvolvimento, como autismo", destaca a investigadora.

Com recurso a metodologias de imagem cerebral de ponta, complementadas por uma abordagem molecular, este estudo laboratorial vai envolver uma equipa multidisciplinar. O financiamento competitivo conquistado por Vanessa Coelho-Santos vai ainda permitir a integração de novos elementos na equipa de investigação.