A Universidade do Minho explica que o método desenvolvido por Rui Paulo, no âmbito da sua tese de doutoramento em Psicologia, denominado Recordação por Categorias, "permite aumentar as memórias relatadas pelas vítimas durante o interrogatório, despertando a sua atenção para pormenores esquecidos".

A aplicação do modelo passa por, nas entrevistas, "solicitar às testemunhas que, após um primeiro relato, descrevam isoladamente as pessoas envolvidas na cena do crime, depois as ações, os locais, os objetos, os diálogos e os sons", explica a UMinho.

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Segundo o texto, verificou-se que mais de 90% da informação relatada nos estudos de caso analisados estava correta, o que evidencia uma elevada precisão no relato.

Método mais eficaz do que outros já usados

"Nenhuma estratégia permite alcançar uma representação exata da realidade. A memória não é perfeita, por isso é natural que surjam falhas quando alguém descreve um acontecimento. O nosso método mostrou ser mais eficaz do que alguns já usados na prática forense, pois possibilita a obtenção de mais informação sem que as imprecisões aumentem", explica o psicólogo forense de 28 anos, agora a dar aulas na Universidade de Bath Spa, no Reino Unido.

A UMinho explana que "na ausência de provas conclusivas, como o ADN e as impressões digitais, as testemunhas assumem um papel fundamental na resolução dos casos", cabendo ao inspetor policial "adotar técnicas que permitam relatos mais próximos da realidade, ajudando a vítima a recordar o máximo de detalhes possível sobre o delito", sem interferir em demasia na entrevista e induzir as respostas.

"Muitos dos erros cometidos pelas testemunhas no interrogatório estão associados a procedimentos desajustados ainda hoje usados pelas autoridades", salienta no texto Rui Paulo.

A academia minhota refere que "o sucesso" do método "deve-se ao facto de ter sido construído tendo como base o funcionamento da memória humana e o modo como a informação é codificada e armazenada"

O modelo aponta que "pedir à testemunha que descreva o crime focando categorias de informação, como objetos (sofá, cadeira, mesa), tende a ativar memórias associadas que não seriam provavelmente recordadas se a história fosse contada cronologicamente".

"É extremamente gratificante ver outros cientistas a testar a nossa técnica. Este é o primeiro passo para que possa ser implementada na prática forense", refere ainda Rui Paulo, que contou com a orientação dos professores Pedro Albuquerque e Ray Bull, respetivamente das universidades do Minho e de Leicester (Reino Unido).