Um projeto de investigação na área da Sida e outro sobre a falta de mobilidade de algumas células, como os espermatozoides, venceram este ano os Prémios Pfizer, que serão entregues hoje em Lisboa.
O prémio de investigação clínica será atribuído a um trabalho na área da SIDA, desenvolvido por uma equipa liderada pelo investigador Nuno Taveira, centrado nos mecanismos de controlo individual da infeção por HIV-2, informaram os promotores da iniciativa.
Partindo do conhecimento de que, ao contrário do HIV-1, a maioria dos doentes com HIV-2 consegue viver normalmente, mesmo sem tratamento, foi estudado um grupo de doentes para tentar perceber como evolui a resposta do organismo ao vírus.
Os investigadores concluíram que a maioria dos infetados por HIV-2 “produz anticorpos que neutralizam o vírus de forma eficaz”.
No entanto, num pequeno grupo apareceram vírus resistentes aos anticorpos, que ganharam a capacidade de infetar novas células.
Descobriu-se assim que havia uma zona do invólucro do vírus que era o alvo de ação dos anticorpos neutralizantes e que se alterava ao contacto com esses anticorpos.
Este estudo é um contributo importante para o desenvolvimento de uma vacina para o HIV-2, e poderá também vir a ser útil no desenvolvimento de uma vacina para o HIV-1, na medida em que foi identificada a região do vírus contra as quais se produzem os anticorpos neutralizantes.
O prémio de investigação básica será entregue à equipa de investigadores, liderada por Mónica Bettencourt-Dias, responsável por um estudo sobre os cílios, estruturas existentes nas células e que são responsáveis pelo seu movimento num única direção, como acontece por exemplo com os espermatozoides.
Estas estruturas, também chamadas flagelos, são igualmente responsáveis pela movimentação de fluído, quando as células se encontram imobilizadas num tecido, para que este fluído e o que ele transporta se desloquem numa única direção, como por exemplo poeiras, nos pulmões, ou os óvulos.
Como tal, as alterações nestas estruturas estão na base de uma variedade de doenças humanas, tais como a disfunção pulmonar, as hidrocefalias ou a esterilidade.
Este trabalho caracterizou a formação desses flagelos utilizando, como modelo, a formação de espermatozoides na mosca da fruta.
Os investigadores descobriram que existe uma proteína responsável pela formação do flagelo e que, na ausência desta proteína, o flagelo fica imóvel e pode levar à infertilidade.
No genoma humano existe um gene que codifica para uma proteína semelhante a esta e que, já em estudos anteriores, foi associada à infertilidade masculina.
Este trabalho vem agora descrever uma forma de estudar a formação dos flagelos e demonstrar o envolvimento da referida proteína na sua montagem.
Instituído em 1955, o Prémio de Investigação Pfizer é uma iniciativa desenvolvida em conjunto com a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa (SCML).
O seu principal objetivo é contribuir para a dinamização da investigação em ciências da saúde em Portugal.
Este ano, foram enviadas 64 candidaturas. Os dois trabalhos premiados vão receber 20 mil euros.
A cerimónia de entrega dos prémios decorre ao final da tarde na Sala dos Atos da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa.
28 de novembro de 2012
@Lusa
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