“A investigação em cancro tem deixado um bocado esquecida a investigação em cancro pediátrico. Esta é uma área em que tem de ser feito muito investimento, pois não tem tido tanta atenção da indústria farmacêutica porque não tem tanto alvo terapêutico”, disse à agência Lusa Luís Costa, presidente da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC).
Investigadores nacionais e internacionais e associações de doentes juntam-se na sexta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, num encontro que permite mostrar o ‘estado da arte’ da investigação em cancro pediátrico em Portugal, o que se está a fazer no estrangeiro e perceber como é que o panorama nacional pode melhorar.
“O país tem falta de estratégia, mas sobretudo tem falta de implementação. Às vezes o que precisamos da tutela não é só investimento económico de grande soma. Por vezes são coisas tão simples como permitir a contratação de coordenadores de estudo, porque não se pode fazer ensaios clínicos sem coordenadores de estudo nas instituições”, explicou Luís Costa.
Só assim – acrescentou – “o país pode ganhar capacidade para participar em ensaios clínicos e mostrar que podemos fazer tão bem como na restante Europa. Isto permite-nos incluir na rota da investigação”.
Em declarações à Lusa, Bruno Cardoso, investigador do Instituto de Medicina Molecular, aponta igualmente a falta de financiamento na área da oncologia pediátrica, sublinhando que, comparado com o cancro da mama e colorretal, o cancro pediátrico representa uma franja pequena.
“Não temos facilidade de financiamento direto (…) Normalmente, candidatamo-nos a oncologia ou biologia e conseguimos por aí o financiamento”, afirmou
Mas o investigador aponta igualmente a necessidade de uma maior organização e de estratégia, para que os investigadores saibam quando há concursos, quais são e programarem o trabalho de laboratório.
“Infelizmente temos problema crónico em termos de financiamento, nunca sabemos com o que podemos contar pois não existe calendarização. Isto, em termos de planeamento estratégico para um laboratório, é muito complicado”, acrescentou.
Já Luís Costa, que também dirige o departamento de Oncologia do Hospital de Santa Maria, diz que o encontro de sexta-feira servirá para aproximar da sociedade civil do trabalho dos investigadores e dar a conhecer o que de melhor se faz na área da investigação em cancro pediátrico, em Portugal e no estrangeiro, e perceber o que falta para poder melhorar.
“A oncologia faz-se com o que de melhor se sabe, mas ainda há crianças a morrer de cancro. Para quem não temos boas alternativas, a melhor opção não é entrar por medicinas que não podem oferecer o que não se conhece, mas sim tentar investigar da melhor maneira como, com novos protocolos, novas abordagens, podemos melhorar o panorama destas crianças”, defendeu o presidente da ASPIC.
Luís Costa afirma que “a ciência pressupõe estar aberto a todas as alternativas”, mas frisa: “Isto significa que aquilo que se encontra tem de ser reprodutivo em qualquer situação e não seja somente uma experiência isolada, de uma pessoa que possa querer dizer que ela é que tem a solução. Tem de ser uma solução representativa para todos”.
“Isto é uma prioridade. Não se pode avançar em oncologia sem investigação e a investigação parte do laboratório, mas depois tem de chegar ao doente”, acrescentou.
O encontro, organizado sob a chancela da ASPIC, conta com o apoio na organização da Acreditar - Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro e da Fundação Rui Osório de Castro, assim como o patrocínio da Fundação para a Ciência e Tecnologia, Fundação Calouste Gulbenkian, entre outros.
Comentários