Os investigadores do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas da UTAD, em Vila Real, utilizam extratos de engaço de uva, um subproduto vitícola que resulta de cada vindima, para aferirem a sua potencialidade ao nível farmacêutico ou para a criação de produtos cosméticos.
Após o teste em bactérias do trato gastrointestinal, num estudo realizado em 2014 que envolveu sete castas, os investigadores entenderam que as potencialidades desta casta utilizada na região do Douro pode ter uma aplicabilidade ao nível farmacêutico.
“Houve uma casta que se revelou extremamente promissora, a Rabigato, que, apesar de ser casta branca, apresentou resultados superiores ao próprio antibiótico”, assinalou.
A investigadora responsável pelo estudo explica que esta casta autóctone portuguesa é muito rica num dímero do resveratrol, utilizado por empresas de produtos cosméticos.
"Verificámos que, além de ter capacidades como antioxidante, ajuda a diminuir o mau colesterol e o aumentar o bom colesterol", assinalou.
O objetivo agora é fazer ensaios com a vineferina, o composto que a distingue relativamente às outras castas, ou com o extrato completo, em linhas solares da pele para verificar a sua atividade anti-inflamatória, revelou.
"Entendemos que poderá vir a ter uma aplicabilidade ao nível farmacêutico, de utilização tópica, tal como utilizamos em outras castas para tratar a ferida do pé diabético, utilizando como creme anti-inflamatório ou algo desse género", acrescentou.
Com os estudos a decorrerem na aplicação na área da cosmética, Ana Barros explica que os resultados ainda não podem ser tornados públicos, apesar de “muito interessantes”, por estar a decorrer uma fase de concurso de projeto para coprodução com uma empresa conceituada do Douro.
“A ideia é comercializarmos um produto de cosmética no âmbito do enoturismo, por uma empresa que tem hotelaria própria e terá marca própria”, referiu.
A investigação iniciada em 2014 tinha como objetivo inicial a caracterização do engaço de uva, por haver poucos artigos publicados a nível mundial e por representarem 25% dos resíduos orgânicos da indústria vitivinícola.
“Apesar de não ser considerado tóxico, é produzido sazonalmente e em grandes quantidades e pode comprometer a competitividade e sustentabilidade da indústria”, diz.
Num trabalho que tem sempre como base a economia circular para valorizar um subproduto que pode ser utilizado com outro fim, Ana Barros lembra que este pode ser utilizado na área da cosmética e na área farmacêutica, como alternativa aos antibióticos, cuja resistência a estes medicamentos é apontada pela Organização Mundial de Saúde como uma grande ameaça à saúde pública.
“Não queremos criar novas moléculas, nem entrar na área da síntese orgânica, queremos aproveitar o que existe na natureza dando-lhe um valor acrescentado, seja a nível cosmético, farmacêutico ou por outras indústrias”, concluiu.
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