"Quisemos estabelecer um modelo em que se pudesse realmente estudar os mecanismos de formação das hérnias discais, porque faltam modelos adequados para estudar este fenómeno, que é complexo do ponto de vista biológico e mecânico", contou, em entrevista à Lusa, a investigadora do i3S responsável pelo estudo, Raquel Gonçalves.

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Desenvolvido em 2017, o estudo, que contou com a colaboração de investigadores do Instituto de Ortopedia e Biomecânica da Universidade de Ulm, na Alemanha, foi recentemente premiado pela Sociedade Alemã de Coluna com o Prémio Georg Schmorl, no valor de cinco mil euros.

Segundo Raquel Gonçalves, a equipa de investigadores, que visava compreender como se formam as hérnias discais e qual o papel do anel fibroso na sua formação, avaliou o "impacto da resposta inflamatória e da estimulação mecânica na degeneração do anel fibroso".

"Neste trabalho conseguimos demonstrar que uma ação conjunta, ou seja, uma sinergia entre o ambiente inflamatório e o impacto (medido por uma ação mecânica nesta estrutura, como torções e choques) enfraquece a resistência do anel fibroso numa zona específica mais suscetível de rutura", esclareceu.

À Lusa, a investigadora adiantou que este modelo vai permitir "desenvolver novos alvos terapêuticos" assim como "novos sinais" no diagnóstico antecipado de hérnias, que são maioritariamente causadas pelo envelhecimento dos discos intervertebrais [articulações que conferem rigidez e flexibilidade à coluna] e provocadas por má postura, falta de exercício físico e excesso de peso.

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"Na clínica não há terapias para recuperar ou regenerar o disco. O que se faz ou é tratar a inflamação com recurso a fisioterapia ou anti-inflamatórios. Quando a situação não se resolve, o paciente é encaminhado para a cirurgia onde há a remoção de uma parte ou total do disco. No fundo, não há nenhuma estratégia clínica para manter os discos e tratar a dor associada", frisou.

A investigadora Raquel Gonçalves, membro do grupo 'Microenvironments for New Therapies' do i3S, espera agora que o "reconhecimento" da Sociedade Alemã de Coluna "abra portas" e permita o desenvolvimento de novas investigações.