“Há serviços de urgência em que não conseguimos implementar a prática de prevenção de infeções. É a medicina de catástrofe. Quando os nossos serviços funcionam de forma menos correta é muito difícil implementar medidas de isolamento. É muito importante as boas práticas nas urgências, mas o serviço de urgências é um dos maiores problemas que temos identificados, é o ‘nó górdio’”, afirmou o diretor do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), ouvido hoje na Comissão de Saúde a pedido do Bloco de Esquerda.
A falta de unidades de isolamento, a falta de profissionais qualificados, a falta de higiene são alguns dos problemas identificados pelo responsável por este programa prioritário da Direção-Geral da Saúde.
Para Paulo Fernandes, o facto de não haver quartos de isolamento, não significa que não se promovam medidas de isolamento ou medidas de precaução para evitar a transmissão.
“Isto não pode servir de desculpa para os médicos. São questões estruturais que têm que ser vistas nos hospitais, porque o funcionamento das urgências são um problema”, afirmou.
Para o médico intensivista, a falta de camas nos hospitais portugueses acarreta o “flagelo das enfermarias com macas”, que considera ser uma inversão do sistema, porque significa que a enfermaria não tem o número de doentes correspondente às camas, mas tem mais, o que “é uma porta aberta para a infeção hospitalar”.
Quanto às práticas de higiene, o responsável sublinhou que as unhas de gel, ou de gelinho, usadas por algumas profissionais, “são práticas não recomendadas, contraindicadas nos serviços de saúde, porque favorecem as infeções, sendo alvo de normas e que circulam pelos sistemas de controlo de infeção”.
Outro problema que o diretor do PPCIRA identifica como grave e fator indutor da propagação das infeções hospitalares tem a ver com a precariedade e rotatividade do pessoal de limpeza dos Hospitais.
“Ao nível do pessoal de limpeza o problema é mais grave por causa da rotatividade desse pessoal e a precariedade desse trabalho. É quase tudo outsourcing. As empresas base não dão a devida formação aos trabalhadores. Nós apostamos em formação desse pessoal e ao fim de dois três meses vamos ao mesmo sítio e é tudo gente nova que temos que formar outra vez”, lamentou.
Paulo Fernandes defende também que se deveria melhorar o vestuário dos profissionais de saúde, que estes utilizem vestuário próprio para a observação dos doentes e não “a roupa usada em casa”.
“Eu sei que isso aumenta as despesas hospitalares, mas é um assunto que tem que ser conversado. Quase todas as medidas de controlo de infeção se revelam custo-efetivas. Normalmente as contas são feitas com o que se vai gastar e não com o quanto se vai deixar de gastar”, disse.
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