A resposta do INEM aos pedidos de ajuda por causa de enfartes “melhorou significativamente” no último ano, tanto ao nível do atendimento aos doentes, como do encaminhamento para os hospitais adequados, revela um especialista em cardiologia de intervenção.

Um ano depois do arranque do projeto europeu denominado Stent For Life em Portugal, o responsável pela iniciativa, Helder Pereira, destaca, em declarações à Lusa, sobretudo as “alterações espetaculares” ao nível da relação com o INEM.

Um dos grandes problemas era o facto de os doentes não chamarem o INEM quando se davam conta dos sintomas de um enfarte, optando por se dirigir pelos seus próprios meios para o hospital, que muitas vezes não era o adequado, por não dispor de meios para efetuar angioplastias.

Além do tempo que perdiam a deslocarem-se sozinhos para o hospital, estes doentes ainda perdiam mais minutos – cruciais nesta doença – a deslocarem-se posteriormente para o hospital indicado.

Segundo o presidente da Associação Portuguesa de Cardiologia de Intervenção (APCI), o número de doentes que chamam o 112 e são transportados pelo INEM quase duplicou num ano, passando de 38% para 69%.

Além disso, o INEM passou a fazer a comunicação direta com os centros de cardiologia e transmitem de imediato o eletrocardiograma do doente para esse centro, para que quando este chegue ao hospital seja logo encaminhado para fazer a intervenção, estando já tudo pronto à sua espera.

Outro aspeto que melhorou foi o transporte entre hospitais, que passou a ser feito pelo INEM, destaca Helder Pereira.

“O INEM não fazia o transporte entre hospitais, quando um doente se deslocava para o hospital errado (que não faça angioplastias). Agora já faz esse transporte e o doente entra imediatamente na sala de cateterismo”, explicou.

Ainda assim, melhoraram também os indicadores relativos ao número de doentes que se dirigiam para os hospitais sem angioplastia, passando de 62% para 47%.

Isto acontece em parte por as pessoas estarem “mais alertas”, o que também é visível no aumento do número de doentes que contactam logo o 112, que passou de 33% para 38%, bem como na diminuição da mediana de tempo entre o início dos sintomas e o primeiro contacto, que passou de 118 para 102 minutos.

“Parece uma melhoria pequena, mas em situações de enfarte os minutos contam muito”, sublinhou.

No entanto, o responsável reconhece a necessidade de “insistir e melhorar” a campanha de sensibilização da população, porque apesar das melhorias, “o grande problema ainda continua a ser o tempo que as pessoas demoram a pedir ajuda e o facto de não o fazerem da forma mais indicada [chamando o 112]”.

No que respeita ao atendimento hospitalar, não houve alterações significativas, mas este era o aspeto que funcionava melhor, diz Helder Pereira.

“Neste momento em Portugal o INEM tem uma estrutura muito robusta de tratamento do enfarte e o tempo de resposta dos hospitais está muito próximo do resto da Europa. Falta chamar mais a atenção dos doentes de que esta estrutura existe, para que eles entrem no sistema”, sintetizou.

Portugal é um dos países da União Europeia onde a taxa de morte por enfarte do miocárdio é maior.

Num enfarte agudo do miocárdio cada minuto conta e por cada meia hora que se perde a mortalidade relativa hospitalar aumenta 10%.

O balanço de um ano da iniciativa Stent For Life em Portugal vai ser apresentado hoje durante um congresso que se realiza em Coimbra.

23 de novembro de 2012

@Lusa