20 de agosto de 2013 - 19h02
Um grupo de investigadores do Programa Champalimaud de Neurociências descobriu que os graves problemas de memória ou de aprendizagem podem estar relacionados com a incapacidade de eliminar espinhas dendítricas, umas estruturas existentes nas ramificações dos neurónios.
A informação foi hoje divulgada pela Fundação Champalimaud, a propósito da publicação da investigação na revista científica PLoS ONE.
Neste trabalho, o grupo liderado por Inbal Israely, investigadora principal do Programa Champalimaud de Neurociências, revela quais as alterações físicas que acontecem no cérebro quando as ligações entre os neurónios se tornam mais fracas.
Como explicam os investigadores, as memórias são armazenadas no cérebro numas estruturas microscópicas, localizadas ao longo das ramificações dos neurónios, chamadas espinhas dendríticas.
A investigação agora publicada aponta para que a redução ou eliminação das espinhas dendríticas seja um processo ativo necessário não só para o esquecimento, mas também para a aprendizagem e armazenamento de novas memórias.
Assim, a incapacidade de eliminar espinhas dendríticas irrelevantes poderá resultar em graves problemas de aprendizagem e memória.
Os investigadores acreditam que o estudo de alterações na estrutura e na quantidade destas estruturas pode ajudar a compreender doenças que envolvem graves problemas de aprendizagem e memória.
Segundo Inbal Israely, “há evidência da ocorrência de alterações na estrutura e na quantidade das espinhas dendríticas em pacientes com atraso mental e, por isso, é fundamental perceber quais os mecanismos que controlam o aparecimento e desaparecimento destas estruturas”.
Para a cientista, “quanto melhor percebermos como a estrutura das espinhas dendríticas muda quando aprendemos, mais saberemos sobre a base fisiológica deste tipo de doenças.”
O ponto de partida para o estudo foram questões como “o que acontece no nosso cérebro quando nos esquecemos de algo?” ou “se a memória tem uma forma física, então qual será a forma de um esquecimento?”, a que os investigadores quiseram dar resposta.
Sendo as espinhas dendríticas os locais de contacto entre diferentes neurónios e onde as memórias se formam ou desaparecem, e sabendo-se já que a construção de novas memórias é acompanhada por alterações na forma das espinhas dendríticas (aumento e diminuição do seu tamanho), o que faltava conhecer era quais os mecanismos na base dessas alterações.
Partindo desta curiosidade, a investigadora sénior do grupo, Yazmin Cortes, explorou a base fisiológica para a redução do tamanho das espinhas dendríticas.
“O que observámos foi algo surpreendente. Pode parecer contraintuitivo, mas o que descobrimos é que é necessária a produção de novas proteínas para as espinhas dendríticas desaparecerem”, explica a investigadora.
Recorrendo a uma combinação de técnicas - óticas, moleculares e de eletrofisiologia – as investigadoras conseguiram perceber ainda que, para além da produção de proteínas, também a atividade neural é responsável pela redução e desaparecimento das espinhas dendríticas.
“Uma vez mais encontramos algo contraintuitivo pois, normalmente, a atividade neural leva ao aumento do número de espinhas dendríticas. No entanto, o que pensamos poder estar a acontecer é que a atividade neural funciona como um mecanismo de controlo do balanço de toda a rede neural”, diz Inbal Israeli.
Lusa
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