Mónica Nave Joana Albuquerque

O cancro da mama (CM) é a neoplasia mais frequente na mulher e a 2ª causa de morte por cancro no mundo1. São fatores de risco para CM a idade, história pessoal/familiar de CM, ocorrência de mutações relacionadas com síndromes hereditárias (nomeadamente nos genes BRCA 1/2), maior exposição a estrogénios (menarca precoce, menopausa tardia, uso de anticontracetivos orais, terapêutica hormonal de substituição) e excesso de peso/obesidade2. Este último constitui um fator de risco modificável, sobretudo em mulheres pós-menopáusicas com tumores com recetores de estrogénio positivos, associando-se a um aumento do risco relativo de CM de 1,1x por cada 5 unidades acima do índice de massa corporal (IMC) normal2-5. O aumento da conversão periférica dos percussores de estrogénio a estrogénio no tecido adiposo é um dos mecanismos descritos e que explica que, em mulheres com IMC normal e índice de massa gorda aumentado, haja aumento do risco de CM6-7. Em Portugal, 29% dos indivíduos entre os 25-74 anos são obesos, e apenas 42% da população pratica exercício físico regular8. Para além das implicações a nível cardiovascular, no doente com cancro, a obesidade associa-se a um aumento do risco de recidiva, influencia o tipo de cirurgia e relaciona-se com um período pós-operatório mais prolongado com maior risco de complicações (atraso na cicatrização, aumento dos eventos tromboembólicos e risco de linfedema)9.
O exercício físico mostrou ser benéfico e seguro na prevenção e tratamento do CM, independentemente da fase da doença, melhorando os sintomas relacionados com o tratamento e a qualidade de vida. A prática de atividade física associou-se a uma redução do risco relativo de CM em 12%, independentemente do status hormonal10 e mostrou diminuir o risco relativo de morte por CM em 50%, sobretudo em mulheres com tumores com recetores hormonais positivos, que praticam o equivalente a 3-5h de caminhada/semana11. Os benefícios observados são explicados, em parte, pela diminuição do tecido adiposo e do nível de hormonas envolvidas na fisiopatologia do cancro (estrogénio, insulina, insulin growth factor, leptina), juntamente com efeito o imunomodulador do exercício, com diminuição da inflamação e do stress oxidativo12.
A deteção precoce, pelos programas de rastreio, e a melhoria da eficácia dos tratamentos, têm permitido uma melhoria do prognóstico desta doença. No entanto, os tratamentos associam-se a efeitos secundários limitantes, tais como a fadiga e astenia, perda de massa muscular e ganho ponderal, perda de massa óssea e osteoporose precoce, neuropatia periférica e linfedema (sobretudo em doentes submetidas a esvaziamento ganglionar e agravado pela obesidade), insónia, ansiedade e depressão, que condicionam um aumento da morbilidade13. Em Espanha, a implementação de um programa de telereabilitação em mulheres com CM após quimioterapia (QT) adjuvante, reportou uma melhoria do estado de saúde físico e cognitivo, dos sintomas relacionados com a braço do lado intervencionado (p<0,01) e da dor (p=0,001)14. O OptiTrain Breast Cancer Trial mostrou que, apesar da taxa de conclusão da QT adjuvante e a relação dose-intensidade terem sido sobreponíveis, as doentes que realizaram treino de resistência combinado com alta intensidade – RT HIIT – tiveram uma diminuição de 3% de hospitalizações e de 27% de trombocitopenia, bem como melhoria da massa muscular, resistência e fitness (também observado no grupo que realizou treino aeróbico combinado com HIIT – AT HIIT)15.
Os benefícios do exercício físico no doente com cancro da mama são vastos, com estudos a comprovarem melhoria na qualidade de vida, depressão, sono e da fadiga (relação dose-resposta, sobretudo se acompanhados de apoio psicológico); na prevenção e tratamento do linfedema, com os exercícios de resistência a mostrarem maior benefício (efeito sinérgico com a perda de peso); e, na saúde óssea, especialmente com os exercícios de alto impacto (com precauções nos doentes mais velhos, com metástases ósseas, alterações do equilíbrio e patologia osteoarticular). Os dados relativos ao impacto do exercício nas náuseas induzidas pela QT, dor, cognição, cardiotoxicidade e função sexual são escassos, parecendo ser benéfica a aplicação de programas de exercício combinado. As guidelines atuais recomendam exercícios aeróbios (150min/semana) combinados com treino de força (2-3x/semana), em planos adaptados ao doente, doença e tratamento13,16-20.
A prática de atividade física deve, assim, ser recomendada e incentivada pela equipa médica e acompanhada por profissionais do exercício. A inclusão em programas comunitários/grupo é uma opção a considerar, com maior taxa de adesão e eficácia.

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