HealthNews (HN) – Que funções desempenham no Serviço de Qualidade, Segurança e Epidemiologia (SQSE) do Hospital de Braga?

Armanda Pereira (AP) – Eu desempenho as funções de diretora do serviço. É um serviço que abrange várias áreas do hospital, do qual faz parte o Gabinete de Qualidade, coordenado pelo Marco. Eu estou na direção do serviço desde setembro de 2020 e trabalho no hospital há 14 anos. O meu percurso começou nos recursos humanos, como coordenadora da área de desenvolvimento profissional. Posteriormente, fui nomeada diretora do serviço de RH e há três anos e meio abracei este novo desafio.

Marco Sameiro (MS) – Eu trabalho neste hospital desde 1997. O meu percurso começou pela área dos cuidados – sou enfermeiro. Comecei a trabalhar no internamento, depois estive 12 anos no bloco operatório e, em junho de 2014, foi-me feito o convite para ingressar no Gabinete de Qualidade. Em 2015, fui nomeado coordenador do Gabinete da Qualidade, e mantenho-me até à data de hoje com essa função.

HN – Em termos gerais, como descreveria os objetivos e a ação do serviço?

AP – O SQSE tem como missão implementar uma política global da qualidade que garanta a melhoria contínua da qualidade dos serviços prestados à população, num contexto de segurança para os utentes, para os profissionais e para a prática clínica, bem como garantir a implementação de medidas tendentes à prevenção e controlo da infeção e resistências aos antimicrobianos.

De uma forma global, aquilo que promovemos é sempre garantir a qualidade e a segurança dos profissionais e dos utentes, numa ótica de melhoria contínua de processos dentro do hospital. Temos esta área da qualidade; a área do risco, que garante o desenvolvimento e manutenção do sistema de gestão do risco clínico e não clínico, enquadrado na cultura de segurança do doente e segurança dos profissionais; o gabinete da medicina do trabalho, que visa assegurar a saúde dos profissionais através da manutenção dos mais elevados níveis possíveis do bem-estar físico e mental dos mesmos; um gabinete que trabalha no âmbito da Prevenção e Controlo de Infeções e Resistências aos Antimicrobianos; o gabinete de codificação clínica, que define, implementa e monitoriza o circuito de codificação clínica e auditoria; e, por último, inclui ainda um registo oncológico que tem como função recolher, tratar e divulgar os dados clínicos referentes à doença oncológica.

MS – O Gabinete da Qualidade tem como principal objetivo garantir a acreditação e certificação do sistema de gestão integrado qualidade, ambiente e segurança. Este é um processo em que os serviços participam ativamente, e por isso nós muitas vezes dizemos que a nossa equipa é constituída por 3500 profissionais. A equipa do Gabinete de Qualidade é constituída por 5 elementos, havendo ainda um elo de ligação para estas temáticas nos serviços – o gestor da qualidade.
Quando os serviços querem implementar um novo circuito, desenvolver um novo documento, iniciar uma nova atividade, temos um papel de facilitador de implementação de processos. Temos também uma área de acompanhamento e monitorização de auditorias e não conformidades; uma área de informação de gestão que acompanha os indicadores de qualidade e segurança; e uma área de gestão ambiental, que visa implementar e acompanhar iniciativas do foro ambiental.

Toda a documentação (protocolos, procedimentos, etc.) é disponibilizada através de uma plataforma para todos os profissionais, sendo este sistema gerido pelo Gabinete da Qualidade.

HN – Em que consiste a Acreditação Global e Certificação ISO 9001 e, em segundo lugar, o que é que irá acontecer no Hospital de Braga até terminar o processo, em novembro de 2024?

MS – Primeiro é importante perceber que este processo se iniciou em 2001. Foi o primeiro processo de acreditação que fizemos, na altura decorrente de uma parceria do Instituto de Qualidade em Saúde e entidades acreditadoras. O nosso hospital, na altura designado São Marcos, foi um dos que aderiram a esse programa e, com orgulho, obteve a acreditação global, e foi o primeiro a consegui-lo à primeira tentativa.

Desde 2001, esse processo manteve-se, independentemente de todas as transformações que tivemos a nível hospitalar, de edifício ou modelos de gestão. A acreditação tem uma validade de três anos e é dada por uma entidade acreditadora britânica que tem um programa específico de acreditação em saúde. Este processo funciona como uma alavanca no sentido da melhoria contínua, melhorando o ambiente de prestação de cuidados, tendo como grande vantagem o facto de ser um programa transversal, ou seja, todos participam, é para todo o hospital. Obviamente, traz-nos também alguma diferenciação, e acaba por ter um impacto muito positivo nos serviços, nos profissionais – reforçando a comunicação, o trabalho em equipa e a motivação – e nos utentes.

AP – Este carimbo vai ao encontro da missão da ULS: sermos uma referência de excelência em saúde. Aquilo que queremos é que os utentes procurem o nosso hospital e a nossa ULS por terem aqui cuidados de saúde que são uma referência a nível nacional, e esta acreditação também vai passar esta mensagem.

HN – O que é que terá de acontecer para poderem renovar a acreditação? Terão auditorias internas e externas, certo?

MS – Certo. A cada ciclo de reacreditação, temos novos manuais. Este que se iniciou conta com três manuais, com 65 normas e mais de 2000 critérios que temos que cumprir, e, portanto, temos que os analisar, saber onde aplicar as normas específicas, saber como atingir o cumprimento daqueles critérios, que são atualizados a cada três anos fruto de melhorias que vão surgindo. Muitos destes critérios são respondidos por vários serviços, o que faz com que tenhamos um conjunto de mais de 5000 respostas de análise aos critérios. Os serviços têm um trabalho operacional e muitíssimo importante de olhar para isto e perceber como é que conseguem implementar aquilo que está descrito nos critérios.

AP – Estamos a falar de 69 serviços e estamos a falar de um controlo de 2000 critérios que se dividem em 5600 porque há critérios que são respondidos por vários serviços ao mesmo tempo. Cabe a este gabinete da gestão da qualidade analisar todas as respostas e perceber se há coerência de respostas, se os procedimentos estão a ser bem implementados, se existem evidências para essas respostas, para que depois o processo possa ser bem construído. Ou seja, isto é um projeto gigantesco dentro de uma organização que é já por si imensa.

MS – Para além do processo documental, temos também o processo da auditoria (de verificação), que tem como objetivo avaliar o estado de implementação dos critérios, funcionando como uma preparação para a avaliação externa, em novembro deste ano. É uma avaliação externa de cinco dias e que envolve cinco auditores, que são peritos na área da saúde, ingleses e portugueses, designados pela entidade.

AP – A equipa que implementa este processo é constituída por elementos do SQSE e por alguns profissionais que não pertencem ao serviço. A esta equipa chamamos de facilitadores. Esses facilitadores vão acompanhar semanalmente junto dos serviços a atualização da documentação e a resposta aos critérios e partilhar com o Marco, o coordenador, as respostas, as questões e as dificuldades que os serviços estão a ter, para que possamos ajudá-los ao longo deste processo. Paralelamente, vamos ter as auditorias de que o Marco falou. Internamente, temos duas auditorias, uma com elementos da ULS e outra com elementos externos, de outros hospitais, que vão servir de preparação para a auditoria final, que será em novembro.

HN – Ao longo de todos estes anos, têm sentido que o hospital cresce e abraça novas oportunidades e desafios também devido a esta acreditação?

MS – Sim. Acho que toda a gente sente um orgulho imenso sempre que o conseguimos. Quando se fala naquele chavão ‘cultura de qualidade’, tem a ver com o facto de as pessoas também serem elas próprias um motor para a mudança, para a melhoria. Eu sinto isso nas equipas porque muitas vezes nós somos desafiados por eles para os ajudarmos a implementar processos/práticas novas. Acredito que este comportamento se deva ao envolvimento das pessoas com o processo. Não ficam à espera do processo de reacreditação para ser motor de melhoria, mas utilizam o processo, obviamente, como motor de melhoria.

AP – Este processo criou uma cultura de procura pela melhoria contínua dentro da organização, porque obriga-nos a organizar as práticas, a pensar nas práticas, a procurar soluções, a melhorar constantemente. É algo que fazemos há mais de 20 anos, que está incutido dentro da organização e que já faz parte da nossa cultura. Sabemos que temos de passar por este processo, sabemos que anos de acreditação são anos mais trabalhosos, mas não é por ser este ano que nós fazemos mais ou que temos mais ou menos cuidado com aquilo que estabelecemos e com a forma como nos organizamos em termos de trabalho.

HN – E isso reflete-se na qualidade dos cuidados prestados aos doentes.

MS – Exatamente. Nós acreditamos nisso e o nosso foco é sempre esse. Obviamente que não há organizações perfeitas. Temos as nossas dificuldades, temos coisas em que somos muito bons, temos outras em que podemos ser melhores, e estes processos também nos ajudam a identificar quais são as nossas fraquezas e perceber se podemos desenvolver algumas iniciativas para conseguir resolver alguns problemas.

AP – A verdadeira missão que nós temos é prestar cuidados de saúde de qualidade, com segurança, responsáveis e que sejam eficientes e eficazes, no sentido de sermos uma referência na prestação de cuidados de saúde.

HN – Que é o que atesta este certificado.

MS – Este certificado, no fundo, atesta que há um conjunto de critérios que a sua implementação vai garantir a qualidade e segurança na prestação de cuidados. Para obtermos a acreditação temos que ter todos os critérios implementados. É feita uma avaliação por peritos documental e presencial e em função desta análise é concedida ou não a acreditação. Nós temos sempre conseguido.

AP – Somos ULS desde janeiro. O âmbito desta auditoria para este ciclo é para o hospital. No futuro, a estratégia poderá passar pelo alargamento desta reacreditação e dos processos de certificação a toda a ULS.

Entrevista de Rita Antunes

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