“Esta intervenção cirúrgica consiste na implantação de um ‘pacemaker’ sem fios, o ‘Pacing Leadless’, uma nova tecnologia que está indicada em doentes em que seja necessário preservar os acessos vasculares, como é o caso dos doentes que estão em hemodiálise ou os doentes que não têm acessos vasculares”, disse à Lusa o diretor do Serviço de Cardiologia do CHMT.
José Linder, que foi também um dos cirurgiões que implantou o dispositivo em Alfredo Almeida, de 85 anos, explicou à Lusa tratar-se da segunda intervenção do género naquele bloco operatório e dos poucos realizados a nível nacional.
Para o médico, este “é também o início do um novo caminho, no que diz respeito à tecnologia de tratamento das arritmias e dos bloqueios cardíacos”.
Relativamente aos ‘pacemakers’ tradicionais, este tem como vantagens não ter fios e ter uma “duração de 18 a 20 anos”, enquanto os outros duram seis a dez.
Além disso pode ser “removido quando chegar ao fim de vida de uma maneira muito simplificada”, uma vez que pode ser aplicado através da veia femoral, de forma direta, e sem deixar cicatrizes.
“Trata-se de um equipamento de vanguarda, de dimensão muito reduzida (tamanho de uma pilha de relógio), que comunica por ‘bluetooth’ com o telemóvel, por exemplo, sendo implantado através de um procedimento minimamente invasivo”, indicou o CHMT.
Esta tecnologia “contrasta com aparelhos muito grandes, os que são usados atualmente, do tamanho de caixas grandes de fósforos, com grande incómodo para o doente”.
“A nível europeu, somos neste momento pioneiros na implantação deste tipo de dispositivos. E o nosso hospital, a nível nacional, foi o terceiro a ter este tipo de tecnologia”, disse José Linder, sublinhando que este é “o primeiro hospital” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), fora dos grandes centros urbanos, a realizar estas intervenções.
A operação, uma de duas realizadas no dia 28 e que envolveu uma equipa de dois cardiologistas, três técnicos de cardio-pneumologia (TCP), dois enfermeiros, dois auxiliares, um técnico de radiologia, dois TCP como observadores, um cardiologista de urgência e ‘back-up’ de cirurgia cardíaca, deu uma nova vida a Alfredo Almeida.
O doente entrou no hospital de Abrantes em 21 de dezembro, após ter um acidente de automóvel por perda de consciência enquanto conduzia.
Entrou na lista dos doentes elegíveis para uma intervenção urgente após o coração ter parado de bater e ter perdido a consciência.
“Era o que eu já sabia, que tinha uma válvula a falhar (…). Fui fazer um exame, um eletrocardiograma, na terça-feira, mais a minha mulher. Na quinta-feira acontece isto”, contou, lamentando o desfecho, mas mostrando-se confiante numa rápida recuperação.
Minutos antes de entrar no bloco operatório, Alfredo Almeida, residente na Portela de Santa Margarida, Constância, era um homem “sem medo” e “tranquilo”.
A sua preocupação era apenas “sair do hospital” e ir ter com a mulher, Olga, de 83 anos, que sofreu ferimentos no acidente de viação e estava em casa, em recuperação.
“Estou esperançoso que vamos reviver a vida (…) e ainda vamos ser felizes o resto dos nossos anos (…)”, disse Alfredo, militar na reforma, sem travar as lágrimas e alguma emoção.
O tempo da intervenção são 40 minutos e Alfredo não precisa de anestesia.
“Sedação e analgesia é suficiente. E amanhã terá alta, em princípio”, disse o cirurgião à entrada da sala de operações.
Entre o acidente de viação de Alfredo, no dia 21, e a colocação do ‘pacemaker’, no dia 28, mediou uma semana. No dia 29, ao final da manhã, José Linder disse à Lusa que a intervenção cirúrgica correu bem e como programado.
“Os doentes operados ontem estão bem, com parâmetros (…) ótimos, e hoje vão poder ter alta e retomar a sua vida normal”, contou, apontando a um “ano novo com um coração novo”, com um dos mais modernos equipamentos cardíacos do país.
Para o médico, estes equipamentos vão massificar-se e serão usados, não só nos doentes a quem estava vedada a colocação de ‘pacemaker’ devido a comorbilidades e risco para a saúde.
“Para esses será obrigatório. Para os outros será uma questão também de tempo e de evolução. Mas isto é um avanço tecnológico, uma vez que dispensa cicatriz, porque não há cicatriz a nível do tórax. Dispensa, também, um enorme risco de infeção. E a durabilidade, que é muito importante”.
Tempo e qualidade de vida que Alfredo Almeida quer recuperar depressa e na companhia de Olga, com quem partilha a vida há 56 anos: “Só quero viver mais uns anitos na companhia da minha mulher”.
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