Num balanço feito aos jornalistas ao meio-dia, no hospital de Santa Maria, em Lisboa, Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), um dos dois que convocaram a paralisação, indicou que há vários blocos operatórios encerrados no país e, apesar de se escusar a entrar “numa guerra de números”, apontou para uma adesão superior a 80% neste primeiro dia de paralisação.

O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares afirmou, por sua vez, que cirurgias e consultas são as mais afetadas pela greve dos médicos, mas revelou que muitas foram antecipadas ou reagendadas por iniciativa dos clínicos que aderiram ao protesto.

Os hospitais, disse Alexandre Lourenço, tentaram minimizar o impacto da greve nos utentes, uma vez que, principalmente em relação às cirurgias, estes são “momentos importantes da vida das pessoas”.

“É importante dar um sinal de normalidade aos utentes, garantindo que estes têm os serviços que precisam”, adiantou.

A paralisação foi convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos e pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e é a primeira destes profissionais de saúde que enfrenta o ministro Adalberto Campos Fernandes, cujo ministério ainda não se pronunciou sobre os efeitos da paralisação.

Alguns dos utentes que chegaram para as primeiras consultas no Hospital de São José, em Lisboa, tiveram de a remarcar para outro dia devido à greve dos médicos.

Cerca das 08:00, altura em que se iniciam as consultas, as salas de espera começaram a encher com os utentes sem saberem se os médicos iam comparecer e com indicações das funcionárias de que, caso não houvesse consulta, para voltar ao ‘guichet’ para marcar para outro dia.

À entrada do serviço de consultas extremas uma funcionária avisava: "Hoje é dia de greve, não sabemos se os médicos estão cá".

No Centro de Saúde de Sete Rios, em Lisboa, dezenas de utentes aguardavam a sua vez no primeiro dia da greve, mas a maior parte dos que saíam estavam satisfeitos, pois tinham tido consulta.

Ainda assim, a dirigente do SIM Isabel Nunes lembrou que este é um centro de saúde que funciona o dia inteiro, das 08:00 às 20:00, e que alguns médicos de família podem ter avisado os seus utentes que não vinham, evitando deslocações desnecessárias.

No centro de saúde do Carandá, em Braga, a adesão dos médicos à greve rondava, de manhã, os 95%, segundo fonte da instituição, "nada que surpreenda" os funcionários nem os utentes, que ainda assim tinham "alguma esperança" em ter a "consultinha".

"Greve dos médicos", lia-se num papel A4 fixado na parede da secretaria daquele que é um dos centros de saúde que mais população serve na cidade de Braga e, até às 09:40, "apenas três consultas tinham sido dadas".

Fonte da instituição explicou que as consultas foram remarcadas para "daqui a uma semana ou para daqui a um mês, dependendo do médico".

O movimento nas salas de espera das consultas externas do Hospital de São João, no Porto, era hoje menor, mas segundo constatou a Lusa estavam a realizar-se consultas de várias especialidades.

Era disso exemplo as consultas de Cardiologia, Urologia e Gastroenterologia, ao passo que em Dermatologia, por exemplo, várias pessoas se queixavam de não ter consulta devido à greve nacional que os médicos iniciaram às 00:00 de hoje.

Os efeitos da greve dos médicos eram também pouco visíveis no hospital de Vila Real, onde as salas de espera estavam cheias e com consultas a decorrer com normalidade, embora outras tenham sido canceladas.

Ao início da manhã, o cenário na unidade de Vila Real do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) era igual ao de outros dias: parque de estacionamento cheio e salas de espera também com muitos utentes, sentados ou em pé.

No sul, o impacto da greve foi também pouco significativo no hospital de Portimão, no Algarve, onde as consultas externas decorreram com relativa normalidade, embora algumas tenham sido canceladas ou adiadas.

O movimento na sala de espera das consultas externas registava menor movimento do que noutros dias, mas, ainda assim, e apesar de alguns utentes terem sido apanhados de surpresa, foram poucos os que viram as consultas adiadas.

Os utentes que tiveram a consulta que estava agendada "não se aperceberam da paralisação", conforme disseram à Lusa no local.

A situação contratava com o Hospital do Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém, onde os utentes do foram informados de que as consultas externas que estavam previstas para esta manhã teriam que ser remarcadas devido à greve.

Pouco depois das 08:00, os utentes recém-chegados começaram a sair, com a indicação de que não iam ter consulta devido à greve. O mesmo aconteceu no serviço de análises clínicas, que terá informado alguns utentes que não seriam feitas as recolhas programadas, à exceção de casos urgentes, por não estarem disponíveis os médicos necessários à validação das análises.

Nas ilhas, a greve registou uma adesão de entre 50% e 100% nos hospitais e centros de saúde da Madeira, o que afetou sobretudo os blocos operatórios e as consultas externas, informou o Serviço de Saúde da Região Autónoma.

Nos Açores, a responsável pelo SIM declarou que o serviço de consulta externa do Hospital de Ponta Delgada estava, cerca das 10:30 locais, a 50%, enquanto a realização de exames se encontrava condicionada.

SIM e FNAM reivindicam um conjunto de 30 pontos e queixam-se de que o Governo tem empurrado as negociações ao longo de um ano, sem concretizações, e demonstrando falta de respeito pelos profissionais.

Limitação do trabalho suplementar a 150 horas anuais, em vez das atuais 200, imposição de um limite de 12 horas de trabalho em serviço de urgência e diminuição do número de utentes por médico de família são algumas das reivindicações sindicais.

Os sindicatos também querem a reposição do pagamento de 100% das horas extra, que recebem desde 2012 com um corte de 50%. Exigem a reversão do pagamento dos 50% com retroatividade a janeiro deste ano.

O Ministério da Saúde tem dito que não negoceia sob pressão e considera-se empenhado no diálogo com os sindicatos médicos.