“O Ministério da Saúde colocou como objetivo dar um médico de família a cada português. Passados quatro anos é possível dizer com segurança e justiça que o objetivo foi levianamente fixado e incompetentemente conduzido”, afirmou o sindicalista Henrique Botelho, numa conferência de imprensa da FNAM hoje em Lisboa destinada a fazer um balanço dos últimos quatro anos das políticas de saúde.

Henrique Botelho recordou que o rácio que estava definido há quatro anos era de um médico com uma lista até 1.550 utentes, “um número mais ou menos consensual entre os países desenvolvidos”.

A FNAM assume ter aceitado em 2012 um alargamento “transitório e temporário” das listas de utentes por médico de família até 1.900 utentes.

“Mesmo com esse alargamento, o Ministério da Saúde não foi capaz de prever as entradas e saídas de profissionais”, declarou.

Quanto à ideia de alargar novamente a lista de utentes até 2.500 doente por médico, a FNAM considera que “coloca definitivamente em causa” a prestação de cuidados e é um número “compatível com os países em desenvolvimento”.

“Não se mete um litro e meio de água num jarro que só leva um litro”, comparou Henrique Botelho, lembrando que médicos com cerca de 2.500 utentes são realidades em países da América Latina, enquanto em sistemas como o do Canadá cada médico de família tem 1.100 doentes.

Para a presidente da FNAM, são as políticas do Ministério que levam a que ainda haja cerca de 1,2 milhões de cidadãos sem médico de família, referindo-se nomeadamente a políticas que entende terem conduzido à emigração e a reformas antecipadas dos profissionais de saúde.

“O objetivo de ter um médico para cada português não existem, nem vai existir, porque não se investiu na forma correta. O correto devia ter sido apoiar e implementar a reforma dos cuidados de saúde primários”, afirmou Merlinde Madureira.

A FNAM considera que o Ministério bloqueou a reforma dos cuidados de saúde primários e criou “dificuldades progressivas” à constituição de novas unidades de saúde familiar (USF).