“Temos 80% das pessoas na base da carreira. Temos pessoas com 20 e 30 anos de serviço, no SNS, e que, fruto da migração que nos foi imposta, ficaram na base da carreira. Na base da categoria e da remuneração”, explicou à agência Lusa Henrique Reguengo, do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos.

Estes profissionais, que estiveram em greve pela primeira vez em outubro e em novembro do ano passado, numa paralisação que teve uma adesão superior a 90%, lembram que “durante meses” ouviram muitos profissionais de saúde falarem de negociações, quando para os farmacêuticos “não houve nem uma palavra”.

“Manter a serenidade na classe com esta situação não foi fácil”, reconheceu o dirigente sindical, que frisa a necessidade de rever a situação de profissionais com dezenas de anos de serviço que não conseguiram sair da base da carreira: “Tenho um diretor de serviço de um grande centro hospitalar de Lisboa que está na base da carreira. Ganha menos do que o seu técnico coordenador”.

“Há duas coisas importantes: não posso ter pessoas assim na base da carreira e, depois, também temos uma tabela que data de 1999. Teve as atualizações da inflação (…) mas, ao contrario das outras profissões [da saúde] , que acabaram por conseguir ao longo do tempo (…) uma atualização (…), a nossa ficou parada”, apontou.

O responsável falou ainda na falta de farmacêuticos no SNS, lembrado a poupança que estes profissionais podem conseguir para o serviço público, por exemplo, com a gestão de medicamentos nos hospitais.

“Há muita coisa que nós podemos fazer, que se reverte de imediato em benefício próprio da situação clínica do doente e em benefício económico para o Serviço Nacional de Saúde, que só conseguimos fazer se tivermos gente, o que, neste momento, não temos”, afirmou.

Disse ainda que a evolução, por exemplo, em termos de terapêuticas, que se perspetiva para os próximos anos, “em que cada vez há medicamentos mais complexos e a exigir mais monitorização” - para conseguir otimizar e rentabilizar – “vai ser absolutamente impossível de fazer com o número de pessoas que existem neste momento nas instituições”.

Este sindicalista deu o exemplo da unidade hospitalar onde trabalha para mostrar a importância do papel dos farmacêuticos na gestão de medicamentos: “só em três ou quatro fármacos que trabalhamos, por ano, poupamos três a quatro milhões de euros”.

“Mas sem farmacêuticos isto não é possível fazer”, insistiu.

Sobre a residência farmacêutica (especialidade), lembrou que os primeiros especialistas formados “vão estar prontos 10 anos depois de se ter publicado a nova carreira” e sublinhou que é preciso dar condições a estes profissionais para escolherem ficar no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Não existe Serviço Nacional de Saúde sem uma atividade farmacêutica bem estruturada e capaz, seja na farmácia hospitalar, nas análises clínicas e na genética, que são as três especialidades que os farmacêuticos têm no SNS, mas para isso nós precisamos de atrair os melhores de nós”, disse o responsável, lembrando: “Nós neste momento temos pessoas a sair. A indústria vem buscar, as empresas de ensaios clínicos vêm buscar”.

Henrique Reguengo disse que, “pelos números da ACSS [Administração Central do Sistema de Saúde], não chegam a 1.000 os farmacêuticos no SNS que seriam precisos, pelo menos mais 300 “apenas para o básico”, mas sublinhou que, “para fazer o que é precioso fazer, o dobro não chegava”.