16 de dezembro de 2013 - 15h24
Setenta por cento das doenças humanas que apareceram nas últimas décadas são de origem animal e devem-se em parte à procura de alimentos de proveniência animal, conclui a FAO, que defende uma abordagem diferente a estas ameaças.
Num relatório hoje publicado, a agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura diz que é necessária uma abordagem mais 'holística' para a gestão das ameaças relacionadas com doenças na ligação entre animais, humanos e ambiente.
"O aumento da população, a expansão agrícola e a existência de cada vez mais cadeias de abastecimento alimentar globais alteraram dramaticamente a forma como as doenças emergem, como passam de uma espécie para outra e como se espalham", alerta o relatório, intitulado "World Livestock 2013: Changing Disease Landscapes".
O diretor-geral adjunto da FAO para a Agricultura e a Proteção do Consumidor, Ren Wang, escreve no prefácio do documento que a contínua expansão dos terrenos agrícolas, a par de uma explosão mundial da produção de gado, significa que "os animais de criação e os animais selvagens estão cada vez mais em contacto uns com os outros" e os próprios humanos estão "mais em contacto com animais do que nunca".
"O que isto significa é que não podemos lidar com a saúde humana, a saúde animal e a saúde dos ecossistemas isoladamente - temos de olhar para elas juntas, e abordar as causas do aparecimento das doenças, a sua persistência e a sua expansão, em vez de nos limitarmos a combatê-las depois de aparecerem", diz.
Segundo o relatório da FAO, a maioria das doenças infeciosas que apareceram em humanos desde a década de 1940 terão origem em animais saudáveis.
É provável, exemplifica a organização, que o vírus da Síndroma Respiratória Aguda Severa (SARS) nos humanos tenha sido inicialmente transmitido por morcegos a civetas, tendo passado destas para humanos através de mercados de animais.
Em outros casos, acontece o oposto, e o gado transmite doenças a animais selvagens, afetando a saúde na natureza.
Por outro, a mobilidade humana é maior do que nunca e o volume de bens e produtos transacionados a nível internacional atingiu níveis sem precedentes, o que permite aos agentes patogénicos viajar pelo mundo com facilidade, recorda a FAO.
O estudo agora publicado foca-se em particular em como as mudanças na forma de criar e comercializar animais afetou a emergência e transmissão de doenças.
"Os muitos desafios discutidos nesta publicação requerem uma maior atenção à prevenção", pode ler-se no relatório. "A atitude de deixar tudo como está já não é suficiente".
A FAO advoga por isso uma abordagem de "Uma Saúde", que olhe para as interligações entre fatores ambientais, saúde animal e saúde humana, juntando profissionais de saúde, veterinários, sociólogos, economistas e ecologistas para trabalhar estes assuntos.
Lusa