"A Sociedade Portuguesa de Pneumologia está totalmente alinhada com a Organização Mundial de Saúde que alerta para o perigo da controvérsia causada pela indústria tabaqueira com a divulgação de informação imprecisa e não fundamentada sobre o efeito protetor da nicotina, e reafirma que os fumadores podem sofrer condições mais graves da doença COVID-19", alertam os pneumologistas em comunicado.
"A nicotina é uma substância altamente aditiva que causa dependência nos seus utilizadores não existindo qualquer evidência sobre o seu efeito protetor", advertem ainda.
O tabagismo está associado a várias patologias crónicas, nomeadamente, doença respiratória, cardiovascular, diabetes e cancro, entre outras. Doentes com estas patologias têm maior risco de doença grave por infeção SARS-CoV-2, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Direção-Geral de Saúde (DGS).
"Além disso, o tabagismo tem um efeito nocivo para o sistema imunitário, tornando os fumadores mais vulneráveis às infeções, incluindo possivelmente o novo coronavírus", informa a SPP. "Outra questão preocupante é o contacto mão-boca realizado frequentemente e repetidamente pelos fumadores, que constitui uma forma de infeção reconhecida. Adicionalmente, também a partilha de tabaco e seus produtos está associado a risco de contágio", frisa.
"Apesar dos estudos serem escassos até à data, já há evidência científica que mostra que os fumadores têm maior risco de progressão para doença grave, maior risco de internamento em Unidade de Cuidados Intensivos com necessidade de ventilação mecânica e maior risco de morte, em comparação com os não fumadores", explicam os pneumologistas.
Estudo aguarda revisão
O estudo veiculado pelo comunicado da SPP ainda aguarda revisão científica. "Há evidência clara de ligação à indústria tabaqueira, no passado, por um dos autores do estudo que coloca a hipótese do efeito protetor da nicotina, Jean-Pierre Changeux", assevera a SPP.
"O artigo de Jean-Pierre Changeux que coloca esta hipótese do efeito protetor da nicotina é baseado num outro estudo, realizado com 343 doentes, e do qual destacamos algumas limitações que comprometem as conclusões retiradas: o facto da taxa de prevalência de tabagismo nesta amostra hospitalar ser menor que a da população em geral não significa que tem um efeito protetor, na medida em que apenas grandes estudos de coorte bem fundamentados são apropriados para responder a questões sobre associação de fatores de risco a determinada doença ao longo do tempo, o que não acontece neste estudo", justifica a SPP.
"Da mesma forma, os dados dos doentes colhidos são imprecisos, por exemplo, no grupo dos ex-fumadores não é discriminado o tempo de abstinência (o que poderá incluir doentes que fumaram o último cigarro pouco tempo antes da avaliação). Além disto, a prevalência de ex-fumadores parece ser elevada, não são mostrados dados ajustados ao sexo e idade e não é fornecida verificação bioquímica da abstinência tabágica. Isso mesmo tem sido referido pela comunidade científica, aliás, estas mesmas limitações são afirmadas pelos autores do estudo original. Por outro lado, deve ser tido em conta que ser fumador e efeito protetor da nicotina são conceitos diferentes, que não devem ser confundidos", conclui a nota
A SPP reforça a posição defendida pelo pneumologista Filipe Froes que considera que "nesta altura a necessidade de divulgar conhecimento científico faz com a revisão e o rigor sejam mais frágeis existindo estudos que não seguem metodologias corretas e que tiram conclusões precipitadas. Existe demasiada especulação para os curtos meses que a doença tem e acaba por se valorizar o que se quer ouvir para se fazer o que se quer fazer".
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