A insuficiência cardíaca (IC) é, hoje em dia, considerada um dos problemas de saúde mais comuns no mundo desenvolvido. “É a principal causa de internamento hospitalar acima dos 65 anos e a sua mortalidade pode chegar aos 50% ao fim de 5 anos, sendo esta superior a alguns tipos de cancros mais comuns”, confirma Rui Baptista, cardiologista e co-investigador principal do estudo PORTHOS, em comunicado.
Apesar de, como refere o especialista, ser uma síndrome cuja gestão “acarreta custos elevados, o que implica uma significativa sobrecarga económica/financeira tanto para os doentes como para o sistema de saúde e sociedade como um todo”, não se conhece a realidade nacional da IC na atualidade. É, por isso, que se lança agora o estudo PORTHOS, que tem um objetivo principal: saber quantos são e como vivem os portugueses com IC.
“Estima-se que, em Portugal, possam existir cerca de 400.000 pessoas com IC. No entanto, esta estimativa baseia-se nos resultados de um estudo epidemiológico desenvolvido há mais de 20 anos e, desde então, verificaram-se várias alterações demográficas, sociais, económicas, políticas e culturais que influenciaram não só as causas da síndrome de IC, bem como os métodos para a diagnosticar”, afirma Rui Baptista. “Por outro lado, devido ao aumento da esperança média de vida e ao estilo de vida atual das populações, prevê-se uma tendência de aumento da incidência da IC.”
Por cá, sabemos que “é uma das causas mais frequentes de internamento hospitalar e responsável por uma elevada taxa de mortalidade intra-hospitalar (superior a 10%). A elevada taxa de internamentos e reinternamentos tem implicações económicas e assistenciais, com importantes consequências na distribuição de recursos”, refere o especialista. “Por estas razões, o impacto económico da IC é elevado, correspondendo, em 2014, a 405 milhões de euros de custos diretos e indiretos. Pela sua dimensão epidemiológica, complexidade clínica, impacto na qualidade de vida dos doentes e carga para os sistemas de saúde, a IC requer uma gestão complexa, com necessidade de otimização dos recursos existentes e articulação de diferentes níveis de cuidados.”
É por tudo isto que se torna necessária a realização do PORTHOS, PORTuguese Heart failure Observational Studyou, em português, Estudo Epidemiológico sobre Insuficiência Cardíaca na População Portuguesa, um trabalho promovido pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia e pela AstraZeneca, em parceria com a Nova Medical School, cujo desenvolvimento “compreende um modelo inovador de investigação colaborativa, com uma abordagem contemporânea de proximidade e articulação” e, através do qual “será possível gerar conhecimento para as políticas de saúde, alocação de recursos e adequação das melhores práticas e evidências à prevenção, cuidado e tratamento da IC”.
Destinado a uma amostra representativa da população portuguesa (5.616 participantes) com residência em Portugal Continental e idade igual ou superior a 50 anos, o estudo arranca, no terreno, no dia 1 de dezembro, em Matosinhos, e decorrerá até final de 2022 por todo o território nacional. “Está dividido em 4 fases, desde o convite à participação, até às fases em que serão aplicados os procedimentos necessários para rastreio da IC e confirmação de diagnóstico. Uma Unidade Móvel instalada num camião, devidamente equipada com meios técnicos e humanos, irá percorrer o País para que os participantes realizem os procedimentos do estudo - que incluem colheita de sangue, questionários, um eletrocardiograma e um ecocardiograma - junto da sua área de residência”, explica Rui Baptista.
Os resultados, esses irão permitir “conhecer a prevalência atual da IC, as características dos doentes com IC e o impacto da IC na qualidade de vida dos doentes”, o que contribuirá “positivamente para a tomada de decisões mais informadas e definição de estratégias mais efetivas de prevenção e gestão desta síndrome”
Sérgio Alves, Country President da AstraZeneca, considera que “o modelo inovador deste estudo entre indústria farmacêutica, investigadores, sociedades científicas e academia é um marco na forma como podemos estabelecer parcerias e contribuir, em conjunto, para a geração de dados e conhecimento com elevado impacto na definição de estratégias e políticas de saúde numa área tão importante como a IC”.
Mas afinal, o que é a IC? Rui Baptista dá a resposta. “É constituída por um conjunto de sintomas e sinais, como cansaço, inchaço das pernas, falta de ar em esforço e/ou repouso, edemas das pernas, inchaço no abdómen ou pele fria. Estes sintomas e sinais são causados por alterações na estrutura ou na função do coração, habitualmente devidas a problemas no músculo cardíaco, nas válvulas ou nas artérias do coração.”
Costuma desenvolver-se “em pessoas que têm (ou tiveram) um problema de saúde cardíaco, que deixou lesões no coração (por exemplo, após um enfarte do miocárdio) ou em pessoas com hipertensão arterial ou diabetes. No entanto, existem muitos outros fatores que causam IC, incluindo doenças das válvulas cardíacas, doenças do músculo cardíaco, arritmias ou doenças cardíacas congénitas. O desenvolvimento de IC torna-se mais comum com o avançar da idade”.
Aqui, “a incapacidade de o coração receber ou bombear o sangue para o corpo na quantidade adequada traduz-se em acumulação de líquido nos pulmões e noutras partes do corpo, como nas pernas e na barriga”. Os seus sintomas “podem agravar-se e evoluir para um episódio de descompensação, que requer atendimento médico urgente e, frequentemente, culmina num episódio de internamento”.
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