O recente despacho do ministério da educação, que estabelece novas normas para a elaboração de ementas e na venda de alimentos nos estabelecimentos de ensino, foi recebido com alguma polémica, alimentada pelas redes sociais e sua habitual polarização. É importante realçar, que nada proíbe as crianças de levar o lanche que os pais queiram, apenas a compra no recinto escolar fica condicionada.
Portugal tem um problema com a obesidade infantil. Uma em cada três crianças tem excesso de peso, sendo a situação mais prevalente nas regiões autónomas da Madeira e Açores, assim como, na região Norte. É importante pois a obesidade infantil está associada a maior mortalidade e morbilidade na idade adulta. Uma criança obesa tende a ser um adulto obeso, com as consequências de saúde que estão associadas, como maior probabilidade de doença cardiovascular, diabetes, certos tipos de cancro e desordens musculoesqueléticos.
As causas são multifatoriais, sendo uma das maiores a literacia parental. Um dos maiores preditores da literacia parental é a escolaridade. Ou seja, a obesidade não surge de forma homogénia na população, pelo contrário, afeta desproporcionalmente as populações com menos recursos e menos escolarizadas. Deixar a solução do problema apenas ao critério dos pais, além de ser uma demissão de responsabilidade das políticas públicas de saúde, significa deixar que os determinantes sociais da saúde produzam a sua perniciosa ação sem controlo nem limites.
A maioria das escolas privadas, não só implementou medidas semelhantes, como as anuncia como sendo mais um fator para os pais inscreverem os seus filhos. Afinal de contas, quem não quer ter filhos com acesso a comida mais saudável? Sendo a resposta a esta questão óbvia, devíamos colocar em cima da mesa a questão: porque não podem todas as crianças terem acesso a alimentação saudável?
Porque todas as crianças merecem, porque sabemos que sem políticas publicas de qualidade as desigualdades em saúde adensam, temos de transformar a escola num ambiente promotor de saúde. Nem faz sentido que seja de outra forma. Que lógica faz os professores explicarem o que é alimentação saudável, quando a mesma escola vende e participa no seu contrário, promovendo a venda de alimentos não saudáveis.
Uma medida isolada, por muito positiva que seja, não produz o efeito desejado. Ou seja, não é suficiente proibir a venda destes alimentos nas escolas. É preciso reforçar a educação, criando programas que cheguem aos pais, nunca esquecendo, que a intervenção deve ser multissetorial. É preciso envolver todos os atores com interesse e conhecimento na área, como a educação, saúde, setor social e o poder local.
Além de melhorar a alimentação no período escolar, queremos que os pais recebam informação para poderem tomar melhores decisões de saúde, para si e seus filhos. Mas é insuficiente, uma verdadeira abordagem abrangente e multissetorial, tem de resolver o outro lado do problema, o sedentarismo. A forma como planeamos e construímos as nossas cidades, pensadas essencialmente para o carro, tornam-se um importante determinante do sedentarismo, que globalmente representa 7% das mortes prematuras e tem um custo de 54 mil milhões de dólares.
Uma escola deve convidar a que os alunos possam ir a pé ou de bicicleta. Deve servir comida saudável a preço acessível, envolvendo, de forma participada e ativa, toda a comunidade educativa nesta evolução. Transformando-se desta forma, num dos mais importantes pilares das cidades saudáveis. Locais em que todos, sem dúvida, merecemos viver.
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