“Estamos muito satisfeitos por hoje, Dia Mundial da Poliomielite, poder anunciar juntamente com a Organização Mundial da Saúde [OMS] que o vírus pólio 3 também já está erradicado”, tal como já tinha acontecido como o vírus denominado pólio 2, disse à agência Lusa a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.
Atualmente, a poliomielite apenas está presente em dois países do mundo: Afeganistão e Paquistão, onde há algumas dezenas de casos causados pelo vírus pólio 1, o único dos três tipos de vírus que falta erradicar.
“São países profundamente pobres, com conflitos há muitos anos e são países extensos, remotos, onde não é fácil chegar ajuda externa”, explicou.
Graça Freitas salientou que “quando estas duas bolsas de vírus pólio 1 forem erradicadas, pode então dizer-se que deixou de haver pólio no planeta”.
O feito hoje anunciado é “uma conquista muito grande da humanidade” na luta contra uma doença que “matava milhares e milhares de crianças em todo o mundo e deixava milhares e milhares com paralisia para o resto da vida”.
“É um combate por passos e hoje é de facto um passo histórico porque ficaremos com dois dos três vírus da pólio erradicados em todo o mundo”, vincou.
Agora “todas as atenções estão viradas para o Afeganistão e para o Paquistão para se perceber se vai ser possível [erradicar a doença do planeta]. Estamos em crer que sim, é uma questão de tempo”, considerou.
Segundo Graça Freitas, o que não pode agora acontecer é os restantes países do mundo descurarem as medidas de combate à doença, que tem como principal arma a vacinação.
“É um combate organizado à escala mundial com muitos, muitos e muitos milhões de euros investidos em vacinação e na logística dessa vacinação” e “nenhum país pode descurar a vacinação porque se não tapamos de um lado e destapamos do outro”, defendeu.
“Mesmo não tendo a doença, temos de continuar a vacinar, a vacinar, a vacinar, até que um dia possamos dizer que desapareceu como aconteceu com a varíola, que em 1980 foi dada como erradicada em todo o mundo”, defendeu.
Recordando à Lusa como começou a luta contra a pólio, Graça Freitas contou que um dos grandes impulsionadores foram os Estados Unidos na década de 50 do século passado, altura em que “a poliomielite era a doença que mais assustava os pais e as pessoas em geral, porque afetava crianças muito pequenas e causava mortes e paralisia infantil”.
O Presidente norte-americano Franklin Roosevelt, que tinha sido vítima da doença e estava numa cadeira de rodas, decidiu fazer um grande investimento. “Foi a primeira vez que se fizeram campanhas enormes na televisão para recolha de fundos” para a investigação e descobriram-se duas vacinas na década de 50 que foram introduzidas à escala mundial.
Em Portugal, o Programa Nacional de Vacinação fez “uma campanha enorme” em 1965 que permitiu vacinar, em cerca de um ano, três milhões de crianças menores de nove anos, recordou.
Entre 1950 e 1975, todos os anos, em média, cerca de 300 crianças adoeciam com poliomielite e cerca de 30 morriam em Portugal.
“Foram das campanhas mais inteligentes feitas em Portugal porque fez com que no espaço de um ano uma doença que era assustadora para toda a gente praticamente desaparecesse graças à ação de uma vacina”, disse Graça Freitas.
Em Portugal, a vacinação fez tanto efeito que o último caso de pólio selvagem aconteceu em 1986, disse, contando que a doença foi eliminada na Europa em 2002.
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