Os resultados, recentemente publicados na revista científica The Lancet Neurology, abrem caminho a uma forma inovadora de tratar recém-nascidos com vários tipos de lesões neurológicas.
Os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) encontram-se entre as dez principais causas de morte em idade pediátrica. Uma parte dos AVC infantis ocorre no período perinatal, entre as 20 semanas de gestação e os 28 dias após o nascimento. Apesar de raros, os AVC perinatais são graves e podem levar a paralisia cerebral, défice cognitivo, epilepsia e atrasos na linguagem, deixando sequelas para o resto da vida.
Por não existir nenhum tratamento eficaz para tratar estes recém-nascidos, a procura de soluções terapêuticas é urgente. “As células estaminais mesenquimais já tinham apresentado capacidades neurorregenerativas em modelo animal e a sua segurança já foi demonstrada em vários ensaios clínicos”, explica Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal. “Foi esta a base para a realização do novo estudo, que procurou averiguar a exequibilidade e a segurança de tratar recém-nascidos que sofreram um AVC com células estaminais mesenquimais, nos primeiros sete dias de vida”, acrescenta.
Neste ensaio clínico, participaram dez recém-nascidos, com diagnóstico de AVC, que apresentavam convulsões, em alguns casos acompanhadas de dificuldades respiratórias. O tratamento experimental consistiu na administração intranasal de células estaminais mesenquimais, sob a forma de gotas. Os autores consideraram todo o processo que envolveu o tratamento experimental exequível e não observaram quaisquer efeitos adversos graves durante o tratamento ou nos três meses seguintes, o que indica a segurança desta terapia a curto-prazo.
Para além da segurança, foi avaliada a extensão dos danos neurológicos, comparando imagens de ressonância magnética crânio-encefálica obtidas antes do tratamento experimental, na primeira semana de vida, com imagens obtidas aos três meses de idade. Antes do tratamento experimental foram observadas alterações neurológicas em todos os recém-nascidos, que pareceram melhorar em seis dos bebés, aos três meses de idade.
Tratando-se de um ensaio clínico sem grupo controlo, com reduzido número de participantes e com um período de seguimento curto, pensado para avaliar a exequibilidade e segurança deste método de tratamento inovador, não é possível concluir acerca da sua eficácia na prevenção de sequelas de AVC pediátrico. Ainda assim, os resultados indicam que o tratamento de AVC com células estaminais mesenquimais é seguro nesta população de doentes, abrindo caminho para a realização de estudos mais alargados, que permitam avaliar a sua eficácia.
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