Abrantes, Chaves, Bragança, Tondela, Viseu, Lamego, Famalicão e Figueira da Foz são alguns dos hospitais onde a adesão à greve atingiu os 100%, segundo um primeiro balanço feito pelo presidente do SEP, José Carlos Martins.

À porta do Hospital de São José, em Lisboa, onde a adesão à greve às cirurgias de bloco e ambulatório está a ser superior a 80%, José Carlos Martins sublinhou que “ainda não existe um balanço fechado”, mas sim alguns números que demonstram o descontentamento dos enfermeiros.

Até ao momento o SEP tem já contabilizadas “centenas de cirurgias adiadas”, sendo que todas as cirurgias de urgência estão asseguradas pelos serviços mínimos.

De acordo com o responsável, no bloco operatório central de Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que normalmente funciona com cerca de quatro dezenas de enfermeiros, apenas um profissional não aderiu hoje à greve.

Também na Madeira, o serviço de cirurgia de ambulatório do Funchal não abriu portas e está paralisado desde o início da manhã. Todas as cirurgias programadas foram canceladas.

Adesão de 80% no Porto

No Grande Porto, a “grande maioria” dos blocos cirúrgicos dos grandes hospitais está a ser afetada pela greve, estando, nalguns casos, a funcionar apenas “as salas de resposta às situações de urgência”, disse fonte sindical. Em declarações à Lusa, Fátima Monteiro, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, citou o caso dos hospitais de Vila Nova de Gaia e Padre Américo, em Penafiel, onde “estão encerradas as cirurgias programada e de ambulatório”.

No Hospital de São João, segundo Fátima Monteiro, “das 12 salas, dez estão encerradas, incluindo os blocos de oftalmologia, estomatologia, neurocirurgia e cirurgia torácica. Só estão a funcionar duas salas e uma é das urgências”. “Na Póvoa de Varzim também só se realizam cirurgias de urgência e no Santo António, no Porto, das 19 salas, 14 estão encerradas”, disse, considerando que o encerramento das salas e consequente adiamento de cirurgias programadas é “uma situação transversal à maioria dos hospitais”. A dirigente do SEP considera que a adesão dos enfermeiros, que “deve rondar os 80%, reflete bem o descontentamento destes profissionais”.

Em seu entender, “o adiamento da reunião [com o Governo] de 04 para 12 de outubro é inaceitável e provoca nos enfermeiros um sentimento de falta de respeito por parte do ministério”. “Os enfermeiros não vão de ânimo leve para a greve, fazem-na porque o Governo os empurra, ao não dar resposta aos seus problemas, que são implicitamente também muitos dos problemas do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente a carência de enfermeiros”, referiu.

Para Fátima Monteiro, “a não valorização das suas carreiras leva à desmotivação, com consequências também no dia a dia da prestação de cuidados”.

“Esperemos que o Governo não adie de novo a reunião e não torne a empurrar os enfermeiros para a greve. Depende do Governo a continuidade deste protesto ou não, se tiver resposta aceitável para resolver o problema dos enfermeiros, logicamente os sindicatos dos profissionais de enfermagem saberão avaliar e suspender a greve, se for o caso”, acrescentou.

Dezenas de cirurgias canceladas em Viana do Castelo

Entre 20 a 30 cirurgias foram hoje canceladas no hospital de Santa Luzia, em Viana do Castelo, devido à greve dos enfermeiros cuja adesão naquela unidade é de 90%, afirmou Nelson Pinto, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP). "Foram canceladas todas as cirurgias, porque o número de enfermeiros que ficam para assegurar as salas são insuficientes para que as cirurgias de rotina tenham lugar", afirmou Nelson Pinto. O dirigente sindical explica que o primeiro dias de greve está a afetar "exclusivamente aos blocos operatório e de cirurgia de ambulatório" do hospital de Santa Luzia, “cuja adesão atinge os 90%".

No Alentejo adesão atinge os 100% em algumas unidades

O dirigente nacional e coordenador no Alentejo do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), Edgar Santos, revelou à agência Lusa que, neste primeiro dia de paralisação, “estão encerradas várias salas de cirurgias nos blocos operatórios dos hospitais da região”.

A menor adesão à greve, na ordem dos “45%”, reconheceu o sindicalista, regista-se no Hospital de Beja, em que, “dos 18 enfermeiros escalados para o bloco operatório, oito aderiram” ao protesto, o que, ainda assim, teve efeitos. “O bloco operatório tem quatro salas de cirurgia e, como é preciso ter quatro enfermeiros em cada uma, por causa da greve, só estão a funcionar uma de cirurgias programadas, porque as outras duas estão fechadas, e a de urgências”, destacou. Já no que respeita à cirurgia de ambulatório nesta unidade, “estavam escalados dois enfermeiros e nenhum aderiu à greve”, disse Edgar Santos.

No Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), de acordo com o SEP, a cirurgia de ambulatório regista 100% de adesão à greve – “os três enfermeiros escalados estão em greve”, disse o sindicalista – e, dos 17 enfermeiros escalados para o bloco operatório, “11 aderiram” à paralisação, o que “ronda os 65%”.

Já em Portalegre, no hospital da capital de distrito, em que “não existe cirurgia de ambulatório”, referiu Edgar Santos, “dos 11 enfermeiros que constam da escala para hoje” no bloco operatório, “oito fizeram greve”, numa adesão “na ordem dos 73%”. “Por toda a região, com este nível de adesão, há várias cirurgias canceladas. Em Portalegre, só funciona a sala de cirurgias de urgência e, em Évora, há também salas encerradas”, frisou o sindicalista.

No Hospital do Litoral Alentejano (HLA), no concelho de Santiago do Cacém (Setúbal), a greve registou uma adesão de 70% no bloco operatório e “encerrou as cirurgias de ambulatório” indicou o SEP. No bloco operatório “estão três enfermeiros a trabalhar e só há uma sala de emergência a funcionar, para assegurar que apenas as cirurgias emergentes se concretizam”, adiantou à agência Lusa, Zoraima Prado, dirigente do SEP.

Algarve com 40 cirurgias canceladas

As duas unidades de cirurgia ambulatória dos hospitais de Portimão e Faro estão hoje encerradas devido à greve dos enfermeiros, que provocou também o cancelamento de 40 cirurgias, indicou o dirigente sindical, Nuno Manjua. "A adesão no Centro Hospitalar e Universitário do Algarve é de 81%, há dois serviços que estão a 100% e nos outros vieram trabalhar muito poucos enfermeiros", disse o coordenador no Algarve do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).

Ao todo, foram canceladas 40 cirurgias, quer nas unidades de ambulatório de Faro e Portimão, serviços que têm hoje só três enfermeiros, quer nos blocos operatórios centrais, onde estão apenas a ser realizadas as cirurgias urgentes, adiantou aquele responsável aos jornalistas.

As reivindicações da classe

Os enfermeiros iniciam hoje o primeiro de seis dias de greve para exigir ao Governo que apresente uma nova proposta negocial da carreira de enfermagem que vá ao encontro das expectativas dos profissionais e dos compromissos assumidos pela tutela.

Com início às 08:00, a greve realiza-se hoje exclusivamente nos hospitais (blocos operatórios e cirurgia de ambulatório) e na quinta-feira em todas as instituições de saúde do setor público que tenham enfermeiros ao serviço, segundo o pré-aviso de greve.

"A greve tem como objetivo essencial exigir ao Governo a apresentação de uma proposta de carreira que vá ao encontro das expectativas dos enfermeiros, mas, mais do que isso, que vá ao encontro dos compromissos que foram assumidos por parte do Governo e do Ministério da Saúde no protocolo negocial que visava precisamente determinar quais as matrizes e em que moldes iria ser feita a valorização da carreira de enfermagem", disse à agência Lusa Guadalupe Simões, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).

A paralisação nacional repete-se nos dias 16, 17, 18 e 19 de outubro, dia em que está marcada uma manifestação em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, para exigir do Governo o cumprimento dos compromissos que assumiu mo processo negocial de 2017.

Os sindicatos exigem a revisão da carreira de enfermagem, a definição das condições de acesso às categorias, a grelha salarial, os princípios do sistema de avaliação do desempenho, do regime e organização do tempo de trabalho e as condições e critérios aplicáveis aos concursos.

Notícia atualizada às 13h47