24 de março de 2014 - 10h11
A Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses alertou hoje que é preciso apoiar os profissionais de saúde para que se cumpram as medidas de prevenção da infeção associada aos cuidados de saúde, nomeadamente a do local cirúrgico.
A AESOP lamentou que ainda “persistam alguns procedimentos menos corretos e facilmente evitáveis como a utilização de anéis, pulseiras e unhas artificiais por parte de profissionais de saúde que prestam cuidados diretos ao doente”.
A este propósito, a enfermeira Elena Noriega, da AESOP, lembrou uma norma nacional publicada pela Direção-Geral da Saúde (DGS) em 2010 que orienta os profissionais de saúde para a prática correta da higiene das mãos nos cuidados aos doentes.
Desde que Portugal aderiu à estratégia da Organização Mundial da Saúde para melhorar a higiene das mãos, em 2008, a taxa de adesão a esta prática tem vindo a melhorar, situando-se nos cerca de 68%, disse Elena Noriega, que falava à Lusa a propósito do Congresso Nacional da AESOP, que decorrerá entre quinta-feira e sábado no Estoril.
Apesar da higiene das mãos ser uma medida com impacto conhecido na diminuição destas infeções, há outras medidas de precaução básicas, nomeadamente a higiene do ambiente e utilização correta de luvas, de "extrema importância na prevenção da infeção".
Entre 40% a 60% das infeções do local cirúrgico (ILC), que representaram 18% do total das infeções hospitalares no último estudo nacional de prevalência de infeção em 2012, podem ser evitadas com “medidas de prevenção, muitas delas simples”, como a preparação pré-cirúrgica das mãos da equipa de cirurgia e "a administração criteriosa de antibiótico profilático no tempo certo".
Para as diminuir, Elena Noriega defendeu que deve ser mantido um conjunto de “boas práticas”, através de uma "estratégia multimodal, onde a formação, a auditoria e a informação de retorno aos profissionais de saúde acerca do seu desempenho são fatores muito importantes".

Em 2011, ocorreram 11.357 mortes associadas à infeção hospitalar, que representaram 24,30% dos 46.733 óbitos ocorridos por todas as doenças, segundo o relatório da DGS “Controlo de Infeções e Resistência aos Antimicrobianos”.
Existem vários fatores que contribuem para as ILC, que constituem a terceira infeção associada aos cuidados de saúde mais frequente e provocam elevada morbilidade, mortalidade e custos.
Há fatores de risco associados ao doente, como a idade avançada, estado nutricional deficiente, diabetes, tabaco ou infeção coexistente noutro local do organismo, mas também à cirurgia.
Na cirurgia, a enfermeira dá como exemplo a preparação cutânea pré-operatória inadequada, a tricotomia inapropriada no pré-operatório e a preparação pré-cirúrgica inadequada das mãos da equipa cirúrgica.
Antigamente, as equipas cirúrgicas utilizavam muito a escova com sabão e um antimicrobiano, mas “ultimamente o mais aconselhado é a utilização de uma solução alcoólica, porque é mais eficaz, não causa tanta descamação na pele e normalmente tem uma capacidade residual superior, que é o que se pretende numa cirurgia”, explicou.
Sublinhou também que “a ILC aumenta brutalmente os custos do internamento”.
Estes são custos diretos, mas “os custos intangíveis são muito preocupantes” e “têm um enorme peso sobre a família e o doente”.
Segundo alguns estudos publicados, os doentes que contraem uma ILC têm 60% maior probabilidade de necessitar de cuidados intensivos, cinco vezes maior probabilidade de serem reinternados e duas vezes maior probabilidade de morte.
Os estudos demonstram que a Vigilância Epidemiológica da ILC e a divulgação dos resultados à equipe cirúrgica conseguem diminuir 25% a 74% este tipo de infeção, pelo que "deve haver uma maior adesão dos hospitais a esta medida".
Recentemente foram publicadas pela DGS três normas – “A prevenção da infeção do local cirúrgico” a “Cirurgia Segura, Salva vidas” e “Profilaxia antibiótica cirúrgica”, que ainda está em discussão pública – que vão apoiar a luta contra a infeção no local cirúrgico.
Lusa