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Dados de Portugal aproximam-se dos máximos registados em estudos internacionais
19 de março de 2013 - 10h43
Duas em cada dez portuguesas contraem vaginose bacteriana, uma doença que, se ocorrer na gravidez, pode mesmo levar a um aborto ou parto prematuro, segundo um estudo do Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho, hoje divulgado.
Numa amostra de 300 mulheres em idade fértil, os autores do estudo verificaram que 20% já contraíram vaginose bacteriana pelo menos uma vez e que 37% estão colonizadas com a respetiva bactéria (Gardnerella vaginalis).
Segundo os responsáveis pelo estudo, os dados de Portugal aproximam-se dos máximos registados em estudos internacionais, mas, ao contrário destes, não se notaram variações significativas entre as etnias e as zonas rurais/urbanas analisadas.
O investigador coordenador, Nuno Cerca, explica que a vaginose bacteriana é uma desordem da flora vaginal que atinge as mulheres em idade fértil (em geral, dos 20 aos 45 anos) e que gera um mal-estar generalizado.
“Porque não se sabe bem como surge, nem como se trata e como nem é mortal as pessoas deixam andar”, diz.
Sublinha, no entanto, que a percentagem de mulheres portadoras da bactéria que se julga estar envolvida na infeção “é das mais elevadas reportadas a nível mundial, o que implica outros estudos e, certamente, mais educação sexual, cuidados de higiene e sensibilização das autoridades”.
Patologia por provocar aborto prematuro
O professor da UMinho acrescenta que há mulheres que tiveram um aborto ou parto prematuro e desconhecem o motivo, não o associando à vaginose bacteriana.
“Muitas mulheres também comentam entre si que a infeção já lhes sucedeu e que o médico receitou um antibiótico, mas, após meio ano ou mais, a infeção regressou, tornando-se quase uma doença crónica”, realça.
Nuno Cerca sustenta, a propósito, que os ginecologistas em geral utilizam as terapêuticas mais antigas, apesar das novas terapias em vigor nos EUA, originando “taxas de recaída alarmantes”.
Os dados mundiais apontam para 10 a 40% de incidência da vaginose bacteriana, com maior prevalência entre a etnia negra e nas áreas rurais com fraca educação sexual.
Este assunto é investigado na UMinho há três anos, com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Depois da questão epidemiológica (saber o seu alcance no país), a equipa do Centro de Engenharia Biológica quer agora compreender o fenómeno em si e apostar numa teoria.
“Sabe-se que esta condição está relacionada com os hábitos sexuais, mas não há consenso se é sexualmente transmissível”, admite Nuno Cerca.
O tema “é pouco estudado” a nível mundial, ao contrário de doenças fatais como cancro e malária.
“Certamente é porque na vaginose bacteriana não está em causa a vida da pessoa. No entanto, esta é cada vez mais falada face à quantidade de pessoas que envolve”, vinca Nuno Cerca.
O estudo da UMinho é o primeiro a nível nacional sobre a prevalência da vaginose bacteriana.
Lusa
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