HealthNews (HN) – A psoríase pode manifestar-se em qualquer idade e em qualquer zona do corpo?
Bruno Duarte (BD) – A psoríase, que pertence ao grupo das doenças inflamatórias crónicas da dermatologia, não é uma doença contagiosa.
Afeta entre 3 a 4% da população, pode aparecer em qualquer idade e manifestar-se em qualquer área do corpo.
Algumas áreas são mais suscetíveis: os cotovelos e os joelhos são muito comuns, mas pode afetar apenas o couro cabeludo, a área genital, as mãos e os pés ou as zonas das pregas (por exemplo, axilas e virilhas).
HN – Quais são as causas?
BD – A psoríase é uma doença imunomediada crónica, ou seja, do grupo das doenças auto-imunes. Apesar de ser muito complexa, do ponto de vista dos mecanismos, sabemos que existe como que um erro no sistema imunitário que faz com que este, em vez de atacar apenas os organismos e as bactérias estranhas, acabe por atacar erradamente a pele da pessoa com psoríase. Esse ataque, motivado pelo sistema imunitário, é o que desencadeia as lesões típicas da doença.
Hoje em dia ainda não conseguimos curar a doença mas podemos controlá-la, e de forma cada vez mais eficaz, com os diversos tratamentos que existem.
HN – É fácil detetar que se trata de psoríase?
BD – Há vários dados que nos ajudam. Em primeiro lugar, temos de ter em atenção que a psoríase pode surgir em qualquer idade. Existem dois picos de idade – entre os 20 e os 30 e entre os 50 e os 60 anos – mas pode aparecer, literalmente, em qualquer momento da vida. Inclusivamente em idade pediátrica.
As manifestações são, normalmente, pele vermelha, escamas espessas e geralmente prateadas, aderentes às placas de psoríase – que apresentam ligeiras elevações da pele, muito bem definidas e firmes à apalpação – que podem ou não dar comichão ou fazer fissuras com sangue.
Estas são as lesões típicas que observamos, por exemplo, nos cotovelos e nos joelhos. Mas a psoríase pode ter muitas caras e apresentar-se de muitas formas diferentes. Existe, por exemplo, a psoríase do couro cabeludo (com comichão, vermelhidão e descamação extensa), a psoríase das mãos e dos pés (pele vermelha e espessada, por vezes com borbulhas de pus que as pessoas confundem com uma infeção mas que, na realidade, são borbulhas de pus motivadas pela própria psoríase) – ou a chamada “psoríase inversa”, nas axilas e nas virilhas, com vermelhidão bastante viva nesta localização.
Há que estar atento a estes sinais e sinais para que se possa chegar ao diagnóstico precoce. A história familiar também nos ajuda. Sabemos que quando há casos na família, as pessoas têm maior probabilidade de desenvolver psoríase.
HN – Além das consequências físicas, esta é uma doença com forte impacto ao nível da saúde mental?
BD – Sem dúvida. Toda a doença dermatológica, por sí, é estigmatizante. A psoríase não é exceção, uma vez que pode afetar áreas visíveis e sensíveis do corpo, inclusivamente a genital, o couro cabeludo, as mãos e os pés.
Nos jovens e nos adultos, a doença tem um impacto estigmatizante enorme e verdadeiramente debilitante. As pessoas evitam ir ao ginásio, escolhem roupas para tapar as lesões, têm vergonha de se coçar…
Além do impacto físico e social, temos de considerar o impacto económico. Sobretudo na atual conjuntura esse aspeto não pode ser descurado. É uma doença que consome bastantes recursos, porque as pessoas precisam de utilizar muitos cremes hidratantes, medicamentos, ir periodicamente às consultas…Tudo isso tem custos diretos e indiretos e um impacto multidimensional muito grande. A psoríase não é só pele, é uma patologia verdadeiramente debilitante para as pessoas que dela padecem.
HN – O diagnóstico precoce é uma realidade no nosso país?
BD – Obviamente que há limitações no Serviço Nacional de Saúde que todos conhecemos e que, por vezes podem atrasar um pouco o diagnóstico mas, regra geral, tanto os profissionais de saúde como as pessoas, em geral, conhecem bem a psoríase. É muito frequente encontrar na consulta indivíduos que “acham” que têm psoríase porque conhecem vizinhos ou familiares que têm a doença e sabem como são as lesões. Além dos profissionais de saúde, as pessoas estão atentas e eu diria que o diagnóstico é cada vez mais precoce.
HN- De que forma o tratamento precoce modifica a doença?
BD – Essa é uma área de ampla investigação. Particularmente nas formas moderadas a graves, que hoje em dia são tratadas com terapêuticas biotecnológicas, os doentes respondem melhor quando são tratados numa fase muito inicial, comparativamente aqueles que não procuram tratamento e deixam arrastar a doença durante mais tempo.
HN – Além da pele, que outras consequências pode ter uma psoríase não tratada?
BD – A psoríase é uma doença inflamatória crónica sistémica cujo impacto vai bastante além da pele. As pessoas com psoríase têm um risco considerável de desenvolverem a chamada psoríase articular ou artrite psoriátrica, uma doença inflamatória crónica das articulações que provoca dor, rigidez e impotência funcional.
A artrite psoriátrica é uma doença verdadeiramente debilitante que geralmente surge entre sete a 10 anos após o desenvolvimento da psoríase cutânea.
Este é mais um fator importante para o tratamento precoce da psoríase da pele. Se a tratarmos cedo, provavelmente conseguimos impedir, pelo menos numa importante fração de pessoas, a progressão para estas e outras doenças. As pessoas com psoríase, particularmente de longa evolução, têm maior risco de enfarte, AVC, doença cardiovascular, obesidade, diabetes e doença renal.
HN – Os tratamentos biotecnológicos trouxeram uma nova esperança aos doentes?
BD – Estamos numa era de verdadeira eficácia terapêutica e segurança no tratamento da psoríase. Enquanto que, antigamente, os tratamentos convencionais estavam associados a efeitos adversos ou eram pouco eficazes, hoje temos tratamentos biotecnológicos dirigidos e extremamente eficazes para tratar a psoríase, mesmo as formas mais difíceis de tratar.
Devemos dar uma mensagem de esperança às pessoas que vivem com psoríase porque, atualmente, existem muitas alternativas terapêuticas e tratamentos verdadeiramente eficazes. Não há motivo para continuarem a sofrer com a doença.
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