28 de fevereiro de 2013 - 09h25
O desejo irreprimível pelo consumo de chocolate, conhecido como “craving”, deve merecer mais atenção dos profissionais de saúde, pois está associado a diversos problemas, como obesidade ou depressão, alertam especialistas em psiquiatria.
Um estudo sobre “craving” por chocolate, publicado na última edição da revista científica da Ordem dos Médicos (Ata Médica Portuguesa), define-o como “um desejo intenso, intrusivo e irreprimível pelo consumo de chocolate”.
Ana Luísa Almada e Manuela Silva, do serviço de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, são as autoras do estudo, que concluiu que o “craving” por chocolate está associado a problemas de saúde como a obesidade, a depressão, a ansiedade e o consumo de substâncias.
Em declarações à agência Lusa, Ana Luísa Almada lembrou ainda os “inúmeros os problemas de saúde ligados à obesidade, incluindo a diabetes tipo 2, a hipertensão, a doença arterial coronária e o acidente vascular cerebral”.
Além disso, adiantou, a morbilidade relacionada com obesidade leva a mais hospitalização, mortalidade e custos.
Os “dependentes” têm “pensamentos obsessivos, sentimentos de perda de controlo ou compulsão, capazes de promover comportamentos de busca da substância desejada para obter um estado elevado de prazer, energia ou excitação”, que neste caso é o chocolate.
Esta não é uma substância qualquer, como lembram as autoras, já que “crenças populares conferem ao chocolate propriedades estimulantes, relaxantes, euforizantes, afrodisíacas, tonificantes e antidepressivas”, lê-se no estudo.
Mas “o chocolate é também entendido como um alimento pouco saudável, carente de valor nutricional, e estigmatizado por associações com a obesidade e o pecado”, pelo que “desencadeia sentimentos de ambivalência”.
A “dependência” por chocolate também não é uma classificação unânime, com alguns especialistas a considerarem excessivo rotular o “craving” como uma adição, enquanto outros entendem tratar-se de um comportamento aditivo, porque pode provocar, em pessoas suscetíveis, "reações psicofarmacologias e comportamentais semelhantes às que aparecem em perturbações aditivas”.
Para Ana Luísa Almada, “existem vários graus de “craving”: nos mais graves, em que se encontram preenchidos os critérios para dependência, considero que o “craving” por chocolate pode ser considerado uma adição. Nos mais ligeiros, considero excessivo rotular o “craving” por chocolate como uma adição, pois muitas vezes existe uma confusão terminológica entre o gostar, o desejar e o “craving””.
Na origem do “craving” por chocolate podem estar fatores biológicos ou psicológicos, embora inicialmente se presumisse que tinha uma base fisiológica devido à diferença entre géneros, à tendência temporal para os “cravings” ocorrerem no final da tarde ou no início da noite e à forte relação entre o ciclo menstrual e o “craving” por chocolate e por outros doces.
No estudo lê-se que o chocolate é consumido “em momentos de stresse emocional, devido às suas propriedades reconfortantes, para proporcionar distração, relaxamento e melhores estados emocionais”.
“O ganho ponderal causado pela ingestão emocional de alimentos pode exacerbar estados aversivos de humor, que por sua vez podem desencadear um novo ciclo emocional de alimentação e aumento de peso”.
As especialistas recordam que não existe “um tratamento específico” para esta prática clínica e que, por isso, a abordagem terapêutica baseia-se em “estratégias psicológicas e nas estratégias terapêuticas das adições, da obesidade e de outras condições associadas”.
Lusa