Pedro Caetano tem 43 anos e começou a fazer diálise aos 8, ainda Filipe Almeida, 32 anos, não tinha nascido. As suas vidas cruzaram-se quando Filipe começou a fazer o tratamento em 2017 numa clínica em Linda-a-Velha, no concelho de Oeiras (distrito de Lisboa).

A doença renal crónica não os impede de viajar pelo mundo, de trabalhar, fazer uma vida normal, conforme contaram à Lusa no Dia Mundial do Rim, assinalado hoje.

Filipe Almeida começou a fazer hemodiálise há quatro anos, mas já sabia da doença desde muito jovem. “Sempre tentámos através da terapêutica atrasar o facto de um dia ter de fazer hemodiálise”, mas esse dia chegou em 2017.

“Lembro-me bem do dia 19 de abril de 2017, uma altura em que eu estava preparado para ter o primeiro filho, que nasceu 10 dias depois de começar a fazer hemodiálise”, contou Filipe Almeida, lembrando que a grande preocupação era assistir ao nascimento do filho, o que aconteceu.

Também coincidiu com a altura em que abriu uma empresa na área do turismo e ia começar a época em Lisboa. Tudo a acontecer ao mesmo tempo, a sensação que tinha é que era “o fim do mundo”.

“Mas não é, porque percebi que a hemodiálise apenas iria permitir-me viver mais tempo, porque a máquina substitui a minha função renal, e então agarrei-me à vida”, lembrou, quando está prestes a ser pai pela terceira vez.

Filipe Almeida optou pela diálise noturna logo desde o início porque trabalhava por conta própria e necessitava dos “dias inteiros”.

No primeiro mês foi mais difícil, porque é um cadeirão, mas agora já dorme “quase que nem um anjinho”.

Em 2019, decidiu dar a volta ao mundo para mostrar às pessoas que era possível ter uma vida normal e fazer hemodiálise em qualquer parte do mundo, porque percebeu que muitas pessoas não saem da própria cidade, por exemplo, de Lisboa para o Porto, para visitar familiares porque têm medo.

“Eu, a minha mulher e o meu filho, que já ia fazer 2 anos, decidimos largar tudo e partir à aventura e fiz diálise em mais de 30 países, cidades foram mais de 50 ou 60, entre a Europa, Ásia, Médio Oriente, América Central e América do Norte”, contou.

Ficou por visitar a América do Sul, África, Austrália e Nova Zelândia porque regressaram em dezembro de 2019 e começou a pandemia, mas “ainda há esperança de poder concluir a viagem”.

Há quatro anos que está à espera de transplante, mas Filipe disse não cria muita expectativa porque “a medicina avançou tanto” e o tratamento dá uma “segurança muito grande”.

Neste percurso, encontrou Pedro Caetano: “foi uma pessoa muito importante na minha vida porque partilhou muito da experiência dele, entre outras pessoas que vamos conhecendo”.

Ao contrário de Filipe, Pedro Caetano não quer ser transplantado “para já”. Já o fez quando tinha 11 anos, mas teve de voltar a fazer hemodiálise aos 13.

“O meu problema foi diagnosticado muito cedo por volta dos 6 anos e passados dois anos entrei em diálise, foi um processo muito rápido”, e já são “33 anos em hemodiálise”.

Apesar de ter que ir três vezes por semana à clínica fazer o tratamento, Pedro disse que faz “uma vida completamente normal”, nunca deixou de trabalhar.

Pedro Caetano faz diálise noturna há cerca de sete anos porque considerou que deveria fazer mais diálise e então optou por esta modalidade porque “é uma diálise muito mais lenta e muito mais eficaz” e depois veio a questão de ter mais tempo para fazer outras coisas.

“Eu costumo dizer às pessoas que começam a fazer diálise que isto não é um acabar é um recomeçar, é no fundo olhar a vida de uma outra forma, o principal é nunca desistir”, salientou.

Segundo o nefrologista Fernando Macário, diretor médico do Grupo Diaverum, que acompanha mais de 3.200 doentes, há 190 doentes que optaram pela diálise noturna, um programa que existe em 13 das 26 clínicas do grupo.

A adesão a este programa tem sido crescente principalmente por parte de doentes mais jovens, porque “a qualidade do tratamento é muito boa”, porque é prolongado, mais fisiológico, mais próximo da função normal do rim e os doentes.

Fernando Macário salientou as melhorias de ordem técnica que tem havido nos últimos 30 anos na diálise, como “máquinas mais sofisticadas”, dialisadores (rins artificiais) melhores e a introdução de bicarbonato, que é uma substância que corrige a acidose dos doentes, em vez de acetato.

“Antes tinham muitas hipotensões e sentiam-se mal durante a diálise, agora muitos deles estão a ler, estão na internet, a ver televisão”, o que vai ao encontro do objetivo de “reabilitar o doente” proporcionar-lhe uma vida o “mais próximo do normal possível”.