O relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos (OM) ao surto ocorrido no lar da fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, onde morreram 18 pessoas, assinala que José Robalo, diretor da Administração Regional de Saúde do Alentejo, ameaçou mais do que um médico do conjunto de clínicos que denunciaram a falta de condições na instituição para prestar cuidados aos 84 idosos residentes.

O semanário Expresso, que teve acesso ao documento da OM, escreve que os clínicos foram ameaçados numa reunião com um processo disciplinar caso não se mantivessem a prestar os cuidados de saúde na instituição.

A ameaça aconteceu a 24 de junho, já depois da primeira morte de um idoso da instituição. No relatório, a OM realça que na reunião estiveram presentes representantes da Autoridade de Saúde Pública e do Agrupamento de Centros de Saúde do Alentejo Central.

No dia 25 de junho, o Agrupamento de Centros de Saúde do Alentejo Central confirmou a falta de condições no lar, mas solicitou aos médicos para continuarem a prestar cuidados aos utentes.

O lar de Reguengos de Monsaraz onde um surto de COVID-19 provocou a morte de 18 pessoas não cumpria as orientações da Direção-Geral da Saúde, conclui uma auditoria da Ordem dos Médicos, que aponta responsabilidades à administração. O relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos para avaliar as circunstâncias clínicas do surto de COVID-19 diz que não era possível cumprir "o isolamento diferenciado para os infetados ou sequer o distanciamento social para os casos suspeitos”"

A comissão conclui que "os recursos humanos foram insuficientes para a prestação de cuidados adequados no lar, mesmo antes da crise de COVID-19, uma situação que se agravou com os testes positivos entre os funcionários, que os impediram de trabalhar".

Numa entrevista ao Expresso, a ministra da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, admitiu que faltam funcionários nos lares, lembrando que há um programa para colmatar essa falha, mas considerou que a dimensão dos surtos de COVID-19 "não é demasiado grande em termos de proporção".

Sobre o relatório que a Ordem dos Médicos lhe enviou e no qual são denunciadas situações de abandono terapêutico dos utentes do lar, a ministra defendeu que essa é "uma valência da Saúde", escusando-se a comentar.

Portugal regista ontem mais uma morte e mais 132 casos confirmados de COVID-19 em relação a domingo, segundo o boletim epidemiológico mais recente da DGS.