20 de fevereiro de 2013 - 09h27
A taxa de sobrevivência do cancro infantil aumentou de 30 para 80% em 50 anos nos países ricos, mas a doença ainda mata 250 crianças por dia no mundo e dificuldades de acesso a novos medicamentos ameaçam mais progressos.
O alerta é de um estudo hoje publicado na revista científica 'Lancet Oncology', elaborado por cientistas de 19 países e seis continentes.
Segundo os cientistas, apesar de nos países ricos haver hoje mais crianças e jovens do que nunca a sobreviver ao cancro, esta continua a ser a principal causa de morte por doença na faixa etária entre um e 15 anos, e todos os anos mais de 5.000 crianças ainda perdem a vida por causa de cancro naqueles países.
“Um ambiente regulatório cada vez mais complexo e rigoroso na investigação clínica e na partilha de dados está a limitar o acesso das crianças às fases iniciais dos ensaios clínicos e a atrasar o desenvolvimento de novas drogas", explicou o coautor do estudo Richard Sullivan, professor de políticas para o cancro e saúde global no King’s College de Londres.
O investigador exemplifica: "a implementação da diretiva europeia sobre ensaios clínicos, em 2004, quase quadruplicou os custos, levando a atrasos substanciais e até à descontinuação de testes”.
A natureza complexa da biologia dos cancros infantis, a dificuldade em encontrar alvos adequados ao tratamento medicamentoso, a falta de financiamento de longo prazo para investigação, sobretudo fora dos EUA, e a falta de incentivos para as farmacêuticas desenvolverem drogas anticancerígenas adaptadas às crianças são outros fatores que, segundo os autores do estudo, dificultam o processo.
Para acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos para o cancro infantil, os cientistas defendem um foco renovado no papel potencial dos fármacos para adultos nas crianças, assim como em novos métodos e ensaios clínicos que permitam mais rapidamente antecipar a dosagem mais segura e eficaz.
“A introdução de fármacos que sejam menos tóxicos e mais direcionados do que os que se usam atualmente requer uma parceria entre investigadores, a indústria farmacêutica, os reguladores e os pacientes e suas famílias. Esta aliança terapêutica garantirá que os esforços se focam nas necessidades clínicas das crianças com cancro", defendeu a autora principal do estudo, Kathy Pritchard-Jones, da University College, em Londres.
Além das dificuldades no desenvolvimento de novos medicamentos, os investigadores alertam para as consequências de longo prazo dos tratamentos oncológicos, estimando que um em cada mil adultos nos países desenvolvidos seja sobrevivente de cancro infantil e que 40% destes sobreviventes sofram efeitos adversos do tratamento ao longo da vida.
“São questões sérias, que podem ter um impacto real na qualidade de vida de uma pessoa", diz Sullivan. “É essencial que os programas académicos e os investigadores dos ensaios clínicos garantam um melhor acompanhamento dos sobreviventes para lidar com as complicações que os sobreviventes do cancro infantil têm ao longo da vida".
Os autores apelam a todos os países que desenvolvam um plano nacional para o cancro que reconheça as características únicas e as necessidades específicas das crianças com cancro, sublinhando que, "se as políticas continuarem a não prestar atenção a esta questão, dentro de 10 anos a infraestrutura não será capaz de lidar com aquilo que será a mais comum causa de morte associada à doença na infância".
Lusa