O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é um «motivo de orgulho» e «uma excelente escola» para os futuros médicos, segundo Nuno Gaibino da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. No Dia Nacional do SNS, a HdF quis saber o que um futuro médico pensa do actual SNS.

Hospital do Futuro (HdF) - Como vê o SNS?
Nuno Gaibino  (NG) - O SNS representa para Portugal e para os portugueses um motivo de orgulho e uma afirmação da qualidade da prestação de um serviço público. A sua total acessibilidade, compreendendo a promoção e vigilância da saúde, a prevenção da doença, o diagnóstico e tratamento dos doentes, a reabilitação médica e social e a integração dos cuidados prestados representam uma aplicação concreta de um direito basilar - Saúde.

HdF - O que destaca de mais positivo?
NG - Tratamento diferenciado e não diferencial dos seus utentes. A existência de uma rede de cuidados geograficamente distribuída.

HdF - E de negativo?
NG - As desigualdades regionais evidenciadas, sendo notória a centralização de cuidados nos grandes centros urbanos. Há também descoordenação entre diversos graus de prestação de cuidados de saúde, provocando o total congestionamento dos Serviços Hospitalares. Outro aspecto negativo é o volume desmesurado de gastos, decorrente de uma má gestão de recursos financeiros e humanos e de uma prática clínica que pretere o Exame Objectivo a favor dos Exames Complementares de Diagnóstico.

HdF - Como é que se poderão resolver esses aspectos negativos?
NG - Investimento racional com o intuito de promover a igualdade no acesso aos cuidados de saúde, nas regiões urbanas, periféricas e ultra-periféricas. Deve também haver uma aposta na formação continuada de todos os profissionais de saúde, visando uma cada vez mais adequada adaptação à actual situação e necessidades do país.

HdF - O SNS deve continuar a ser a «escola» de quem faz o internato médico ou os privados também devem ser uma opção?
NG - O SNS tem sido, sem dúvida alguma, uma excelente escola, dotando Portugal de médicos com formação de qualidade. Neste momento, o debate sobre a possibilidade de se realizar o internato médico em instituições privadas constitui uma mera questão política. Se tanto se alega a carência de recursos humanos no SNS, qual a necessidade de formação no privado? O investimento do Estado deve, na minha opinião, ser recompensado com o serviço cívico prestado ao país.

HdF - Considera que deve haver alguma mudança constitucional, para que o SNS deixe de ser considerado «tendencialmente gratuito»?
NG - Na minha opinião, esta é uma questão muito delicada e complexa, que não deverá representar neste momento uma prioridade para o país, tendo em conta o actual estado de saúde de Portugal.

HdF - Que mensagem gostaria de deixar hoje, 15 de Setembro (Dia Nacional do SNS), aos actuais profissionais do sector?
NG - Embora sejam identificáveis algumas lacunas, o SNS deve constituir um motivo de orgulho para todos os seus profissionais. Apesar das limitações e problemas existentes, reconheço uma excelente prestação de cuidados de saúde e de serviço público à nação. Espero que todos os alunos de medicina portugueses contribuam para a melhoria contínua do SNS.

2010-09-15