A procura do perfecionismo pelos atletas de alta competição pode provocar comportamentos alimentares de risco, concluiu um estudo da Universidade do Minho realizado com base em questionários feitos a 299 atletas.
Os autores do estudo, Rui Gomes e Luiz Silva, não encontraram no comportamento dos desportistas qualquer associação com a pressão assumida pelo treinador, “não se confirmando assim a importância que outros estudos têm vindo a atribuir aos técnicos na promoção de comportamentos alimentares problemáticos nos atletas”.
Os resultados deste trabalho indicam também que a pressão dos pais ao nível da restrição alimentar é superior aos padrões de exigência pessoal dos próprios desportistas.
O estudo permitiu concluir igualmente que não existem grandes diferenças de comportamento independente da idade dos inquiridos, ao contrário do que avançam outras investigações, que associam as perturbações alimentares aos mais novos.
No entanto, as diferenças de idade tornaram evidente o facto de os mais novos apresentarem padrões de perfeccionismo mais elevados do que os seus colegas mais velhos, nomeadamente pela preocupação com os erros, pela pressão parental e pela pressão do treinador.
O texto conclui que as dimensões pessoais (sexo, perceção de peso ideal) e desportivas (títulos obtidos) permitem ter uma melhor perceção da tendência para as desordens alimentares.
Segundo a investigação, que refere existir uma maior tendência das mulheres para comportamentos alimentares de risco, os atletas que manifestam um ideal de peso abaixo do atual tendem a ter mais problemas de comportamento alimentar, maiores níveis de insatisfação corporal e preocupação com as avaliações dos outros acerca da sua forma corporal.
O estudo tornou igualmente claro que a preocupação com os erros está intimamente associada aos comportamentos alimentares de risco.
A investigação recente demonstra que as dimensões negativas do perfeccionismo (preocupação com os erros, dúvidas acerca das opções assumidas, as expetativas goradas e as reações negativas face aos erros cometidos) estão associadas a problemas psicológicos como a ansiedade, o esgotamento ou a baixa autoestima.
As desordens alimentares dizem respeito a problemas psiquiátricos potencialmente ameaçadores da vida e as mais conhecidas são a anorexia, que se caracteriza por um medo mórbido em engordar, e a bulimia nervosa, que se caracteriza por episódios de ingestão alimentar incontrolável, seguidos por algum tipo de comportamento compensatório.
No que diz respeito ao perfeccionismo, os atletas com essa personalidade caracterizam-se por padrões de exigência elevados, acompanhada por uma tendência para serem demasiado críticos na avaliação do seu próprio comportamento.
Participaram neste estudo 299 atletas (146 mulheres, 48,8%; 153 homens, 51,2%) com idades entre os 14 e os 39 anos e na distribuição por modalidades, a maioria praticava desportos coletivos (195, 65,2%), enquanto 104 atletas (34,8%) estavam em desportos individuais.
De um modo geral, os participantes competiam nas principais divisões das respetivas modalidades (111, 77,1%) e um número significativo de atletas obteve êxitos desportivos (alcançaram o título de campeões nacionais) (86, 28,8%).
Os atletas distribuíram-se por três escalões competitivos: juvenis (133, 44,5%), juniores (90, 30,1%) e seniores (76, 25.4%).
02 de dezembro de 2011
@Lusa
Comentários