11 de janeiro de 2013 - 14h57
A anorexia nervosa e a hiperatividade física têm um mecanismo molecular comum, o que abre caminho para o desenvolvimento de um tratamento para este distúrbio alimentar que afeta principalmente as adolescentes.
Acreditava-se que a hiperatividade dos anoréxicos era intencional e tinha como objetivo a perda de mais peso com a queima de calorias, mas uma equipa do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde e Medicina francês, do Centro Nacional de Investigação Científica do mesmo país e das Universidades de Montpellier e Nîmes, também em França, descobriu um mecanismo comum que dá conta de um elo entre os dois comportamentos.
Usando ratos geneticamente modificados que imitam o comportamento da anorexia humana, os investigadores descobriram que os animais apresentavam uma anormalidade molecular numa região do cérebro relacionada com a recompensa.
Esta anomalia corresponde ao excesso de expressão de genes do recetor 5-HT4, a chamada serotonina, um recetor celular que controla a hiperatividade motora nos ratos.
"Identificámos, pela primeira vez, uma via molecular comum envolvida na anorexia e hiperatividade", diz Valérie Compan, que liderou o estudo publicado no final de 2012 na revista Translational Psychiatry.
O trabalho confirmou ainda existência de semelhanças entre a anorexia e o “vício”. "A anorexia e a cocaína trilham o mesmo caminho molecular, o que tende a confirmar que a anorexia é um vício", acrescenta a cientista.
Os investigadores também descobriram que o recetor celular se pode tornar completamente inativo e provocar "um excesso de consumo de alimento", como acontece no caso da bulimia.
"Os distúrbios que afetam este recetor - às vezes muito ativo e supressor do apetite, outras vezes inativo - podem explicar as oscilações entre a anorexia e a bulimia em alguns pacientes", ressalta a investigadora.
"Na ausência total de medicamentos para o tratamento da anorexia, este recetor pode representar um alvo terapêutico eficaz, já que ao desativá-lo os pacientes estariam mais dispostos a alimentar-se e ao reativá-lo poderia ajudar a moderar a ingestão de alimentos", conclui.
Por AFP