Em Portugal, estima-se que a dermatite atópica afete aproximadamente 360.000 pessoas. Quais são os impactos desta patologia na vida dos doentes?

Tal como em todas as doenças crónicas, o impacto da dermatite atópica é diário na vida dos doentes, mesmo quando a doença está controlada. A gravidade desta, bem como a eficácia e o acesso aos tratamentos fazem variar a intensidade desses impactos.

Quais são as principais queixas dos doentes relativamente à doença?

As principal queixa dos doentes com eczema atópico é o prurido. Este, associado ao eritema, descamação, exsudação e outros sintomas, podem estar na base de uma cadeia, que passa pela insónia e irritabilidade, entre outros, e  culmina em patologia psicológica, tal como depressão e ansiedade.

De que forma a discriminação afeta o dia a dia destes pacientes?

Embora a dermatite atópica não tenha o mesmo impacto visual que outras doenças dermatológicas, como a psoríase, quando a doença se localiza nas zonas expostas, nomeadamente a face, os doentes podem ser vítimas de discriminação.

Diogo Matos, dermatologista do Hospital da Luz de Setúbal
Diogo Matos, dermatologista do Hospital da Luz de Setúbal Diogo Matos, dermatologista do Hospital da Luz de Setúbal

Como se distinguem a forma leve da doença e a forma moderada a grave?

A forma ligeira da doença, embora obrigue à aplicação regular de tratamentos tópicos, é facilmente controlável por meio destes, podendo haver uma necessidade pontual de tratamento sistémico. A forma moderada a grave, necessita geralmente de tratamento sistémico, sendo que, em alguns casos, nem este consegue o controlo completo da doença.

Que tratamentos estão disponíveis para dermatite atópica moderada a grave?

Para além dos emolientes, corticosteróides e inibidores da calcineurina tópicos, também utilizados nas formas ligeiras da doença, os tratamentos clássicos para a dermatite atópica moderada a grave assentam sobretudo nos corticosteroides orais, os quais são geralmente utilizados de forma pontual em períodos de exacerbação da doença, nos imunossupressores clássicos, tais como a azatioprina, metotrexato, ciclosporina, micofenolato de mofetil e na fototerapia. De há alguns anos para cá têm vindo a ser disponibilizados tratamentos biológicos, que compilam uma eficácia, tolerância e perfil de efeitos secundários muito superiores e benéficos face às armas terapêuticas clássicas.

Apesar dos avanços nos últimos anos, continuam a existir necessidades por satisfazer?

Sim. Um exemplo de uma necessidade ainda não completamente respondida é o tratamento do prurido. Apesar do controlo da doença ser por si só suficiente, na maioria dos casos, para manietar o prurido a esta associado, ainda não existem tratamentos eficazes dirigidos diretamente a este, os quais poderiam ser extremamente úteis. Adicionalmente, o acesso à terapêutica biológica, mais eficaz e melhor tolerada, é ainda difícil e, em muitos casos, limitado.

Continua a existir disparidade no acesso à terapêutica nos setores público e privado. De acordo com a sua experiência, de que forma é que esta realidade afeta os doentes?

Esta disparidade afeta os doentes a vários níveis, pois o acesso ao setor público é por vezes demorado e também na medida em que não é possível manter o seguimento pelo mesmo médico que já procedia ao seu tratamento desde há muitos anos. Assim, vendo-se limitado nas suas armas terapêuticas e procurando o melhor e mais eficaz tratamento para o seu doente, o médico assistente de um doente no setor privado vê-se obrigado a referenciá-lo ao setor público, quebrando uma relação de confiança e conhecimento mútuo.