“Os programas de saúde oral e os médicos dentistas devem ser aproveitados para uma vertente de promoção de hábitos saudáveis, nomeadamente na alteração da mudança comportamental e de fatores de risco”, disse Miguel Pavão, que falava à agência Lusa a propósito do Dia Mundial Sem Tabaco, que se assinala na quarta-feira.
O bastonário lamentou que estas valências não sejam utilizadas pelas autoridades de saúde, relatando que o que acontece é que “os médicos dentistas o fazem por livre e espontânea vontade” para dar um maior acompanhamento aos doentes.
Falando da sua experiência, Miguel Pavão contou que tem muitos doentes que deixaram de fumar durante os processos de tratamento. “Estou a falar de doentes que fumavam três maços de cigarro por dia, ainda hoje me agradecem”.
Mas, insistiu, “não há estímulo nenhum a que as políticas de saúde utilizem os médicos dentistas”, por exemplo, na prevenção do consumo do tabaco que está muito ligado a muitas patologias de saúde oral, como a doença periodontal, a leucoplasia e o cancro oral, que mata cerca de 1.000 pessoas por ano em Portugal, e cujo risco aumenta 38 vezes se a pessoa fumar e consumir álcool regularmente.
Para elucidar sobre este risco, Miguel Pavão citou dados do Instituto Nacional de Estatística relativos a 2022 que indicam que 20% da população portuguesa maior de 16 anos consome bebidas alcoólicas diariamente e 14,1% fuma todos os dias.
“Só 40% das pessoas que têm cancro oral é que sobrevivem mais de 5 anos”, observou, alertando também para os riscos da “leucoplasia, uma lesão branca que tem uma potencialidade de se tornar maligna, que num fumador acontece seis vezes mais do que numa pessoa que não fume”.
Comentando as alterações à Lei do Tabaco, o bastonário salientou que a Ordem, “apesar da polémica”, está “ao lado desta legislação e do Governo”, mas considerou que “Portugal podia ter sido muito mais restritivo”.
“Este processo não é novo e aquilo que se tornou polémico há uns anos trouxe muitos direitos à população, em benefício de todos”, disse, frisando que ao tornar as populações mais saudáveis, os sistemas de saúde também são mais sustentáveis.
Por isso, defendeu que os dentistas “apoiam fortemente” qualquer iniciativa que tenha por objetivo melhorar a saúde oral dos portugueses e os seus fatores de risco porque, sublinhou, “apesar do aumento da prevenção e de muita informação por parte dos pacientes, a verdade é que as consequências continuam a ser muito graves e muito danosas para a população”, a nível económico, social e da saúde.
“O tabaco é das principais causas de morte que poderia ser evitada no mundo e na Europa e por isso é que se compreende que o Governo queira ir mais longe”, afirmou, rematando: “Não há nenhum profissional de saúde que, na sua essência, possa contrariar esta tendência, independentemente da contestação que alguns, numa vertente chamar-lhe-ia mais moralista, possam tentar encontrar naquilo que são as suas liberdades individuais”.
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