A investigadora do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) Ana Pelerito afirmou hoje que a crise poderá aumentar os casos de brucelose, porque há mais tendência de criar animais para consumo próprio.

Ana Pelerito disse à agência Lusa que, devido à crise económica, a criação de animais em casa e o fabrico de produtos lácteos para consumo próprio, sem controlo veterinário, irá aumentar em meios rurais.

“A crise é enorme. Se as pessoas tiverem, por exemplo, uma vaca em casa, a criarem e conseguirem tirar leite e carne, vão minimizar muito os custos”, disse a investigadora, à margem do "workshop" “Biossegurança: Doenças Infecciosas, uma potencial ameaça biológica”, que decorre em Lisboa, no INSA.

Segundo a investigadora, as notificações de brucelose rondam os 80 a 100 casos por ano, em Portugal, a maioria no Alentejo e no interior do país.

Contudo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) refere que a incidência da doença deve ser cinco, a seis vezes superior aos casos notificados.

“Se calhar temos 500 a 600 casos por ano, que não estão a ser notificados e detetados”, disse a investigadora.

Para controlar a doença, a investigadora defendeu que tem de haver um controlo total dos alimentos e dos animais.

“Normalmente, quando há um caso de brucelose, temos sempre um surto. Portanto, se conseguirmos controlar e saber qual é a origem [da doença], conseguimos minimizar os efeitos e evitar que haja a transmissão da doença”, explicou.

As autoridades recomendam que sempre que haja um caso suspeito seja comunicado à Direção-Geral de Saúde (DGS) ou ao INSA, para evitar a cadeia de transmissão da doença, que está muito associada a zonas rurais, onde há mais criação de animais e menos controlo.

No encontro, Ana Pelerito adiantou que a “brucelose é uma doença emergente, com 500 mil novos casos por ano no mundo”, e “passível de ser utilizada como arma biológica”.

“Numa cidade como Lisboa, se dispersássemos aerossóis contaminados com brucela, a taxa de mortalidade seria de 150 pessoas, mas a taxa de morbilidade [pessoas doentes que recorreriam ao hospitais] rondaria as 27 mil pessoas”, explicou.

No encontro, foi ainda abordada a tuberculose, uma doença que tem vindo a registar uma diminuição de casos desde 2002, disse Ana Rita Macedo, da Direção-Geral da Saúde.

“Somos um país de incidência intermédia, mas com uma diminuição de casos desde 2002”, disse Ana Rita Macedo, adiantando que Beja, Faro, Lisboa, Porto e Setúbal são os distritos que apresentam os valores mais altos.

No caso da tuberculose multirresistente, Portugal também tem apresentado um “decréscimo consistente” do número de casos, estando praticamente circunscrita à região de Lisboa e Vale do Tejo, acrescentou.

Em declarações à Lusa, o investigador do Instituto de Medicina e Higiene Tropical Jaime Nina disse que a tuberculose tem uma componente de transmissão social muito importante, que está associada às crises.

“Transmite-se mais facilmente quando há condições habitacionais más. Coisas que parecem simples como subir o preço da eletricidade, significa que há menos gente a ter aquecimento central de inverno, significa que a tuberculose é mais transmissível”, exemplificou.

29 de outubro de 2012

@Lusa