A paralisia cerebral "é um problema de origem neurológica que resulta de danos cerebrais sofridos antes ou após o nascimento, podendo afetar, com maior ou menor gravidade, o movimento, a postura e a coordenação motora", explica Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, em comunicado.
O artigo científico, agora publicado, descreve os resultados de um ensaio clínico, que decorreu entre 2017 e 2019, e que incluiu 72 crianças dos 4 aos 14 anos com paralisia cerebral, a principal causa de incapacidade física em crianças, que afeta cerca de 3 em cada 1000 indivíduos, a nível mundial.
As abordagens clássicas, como a fisioterapia e a terapia ocupacional, embora possam ajudar no processo de reabilitação, têm-se revelado insuficientes no tratamento de crianças com paralisia cerebral. Por essa razão, "estão a ser investigadas novas opções terapêuticas, das quais se destaca a aplicação de células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical, graças aos resultados favoráveis da aplicação destas células no tratamento de problemas do foro neurológico, reportados nos últimos anos", acrescenta a especialista.
Durante o ensaio, as crianças foram divididas aleatoriamente em dois grupos: o grupo controlo, que não recebeu células, e o grupo experimental, ao qual foram administradas células estaminais do tecido do cordão umbilical por via intratecal (através de punção lombar). Todas as crianças participaram, ainda, no mesmo programa de reabilitação, que incluía três sessões de 75 minutos por semana.
Após um ano de seguimento, os investigadores concluíram que o grupo tratado com células estaminais do cordão umbilical - ao contrário do grupo de controlo - apresentou melhorias significativas na função motora, relativamente aos níveis iniciais. As crianças do grupo experimental destacaram-se também pelas melhorias no tónus muscular, mobilidade e autocuidados, e por melhorias estruturais ao nível cerebral, reveladas pelos estudos de imagiologia, sugerindo, assim, um efeito positivo da administração das células estaminais.
Não se verificaram diferenças significativas entre os grupos relativamente à frequência de efeitos adversos, nem a ocorrência de efeitos adversos graves durante o estudo, pelo que a administração intratecal de células estaminais do tecido do cordão umbilical foi considerada segura.
Os autores aconselham a realização de mais estudos para determinar qual a melhor via de administração, fonte e dose de células estaminais para realizar este tipo de tratamento, bem como para compreender os mecanismos subjacentes à reparação neurológica promovida pelas células estaminais.
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