Um estudo, realizado no laboratório da Crioestaminal às amostras de sangue do cordão umbilical recebidas para criopreservação, reforça a baixa probabilidade de transmissão de SARS-CoV-2 aos bebés durante a gravidez.
Entre abril de 2020 e fevereiro de 2023, foram analisadas, através de técnicas de biologia molecular (RT-PCR), 779 amostras de sangue do cordão umbilical colhidas no parto de grávidas que indicaram, nos questionários clínicos realizados, um diagnóstico de COVID‑19, seis semanas antes ou após o parto.
Em todos os testes efetuados foram obtidos resultados negativos, ou seja, não foi possível detetar a presença de SARS-CoV-2 nas amostras de sangue do cordão umbilical dos bebés de grávidas que tiveram um diagnóstico de COVID‑19. Estes resultados reforçam o baixo risco de transmissão do vírus a partir de uma amostra de sangue do cordão umbilical.
“Este estudo reforça o que tem sido comunicado em várias publicações científicas acerca da possível transmissão de SARS-CoV-2 através de sangue do cordão umbilical: nas 779 amostras analisadas não foi detetada a presença do vírus causador de COVID-19, refletindo a baixa probabilidade de transmissão deste vírus através do sangue do cordão umbilical e a segurança da utilização desta fonte de células estaminais numa futura utilização clínica, mesmo que a colheita tenha sido realizada em pleno contexto pandémico”, afirma Carla Cardoso, Diretora do Departamento de I&D da Crioestaminal.
Da incerteza à evidência científica
Durante a pandemia de COVID‑19, as grávidas foram consideradas um grupo de risco, não só pela saúde da futura mãe, mas também do feto durante o desenvolvimento uterino e do recém-nascido após o parto. Surgiram, por isso, muitas questões sobre a probabilidade de ocorrência da transmissão vertical do SARS-CoV-2, ou seja, da passagem de partículas virais da mãe para o feto através da placenta, ou para o recém-nascido já na fase do parto e pós‑parto.
A maioria dos estudos realizados desde 2020 indicam a ocorrência de transmissão vertical do SARS‑CoV‑2 como algo possível, mas de muito baixa probabilidade, sendo que a transmissão transplacentar apenas poderá ser confirmada se detetada a presença do genoma do vírus em tecidos fetais, como o sangue do cordão umbilical.
Logo no início da pandemia, uma das preocupações dos profissionais de saúde e dos bancos de tecidos e células prendeu-se com a possibilidade da existência de partículas virais do SARS-CoV-2 no sangue do cordão umbilical colhido para transplantação hematopoiética.
“Por ser uma fonte rica em células estaminais hematopoiéticas, o sangue do cordão umbilical é utilizado em transplantes que visam regenerar a medula óssea. Por isso, a sua colheita após o parto é uma prática comum em vários países, como é o caso de Portugal. Assim, dada a sua importância clínica, foram realizados vários estudos no sentido de detetar a eventual presença do vírus causador de COVID‑19 no sangue do cordão umbilical”, esclarece Carla Cardoso.
Em 2020, uma publicação científica agrupou os resultados de vários estudos realizados na China, abrangendo um total de 38 grávidas com história clínica de infeção por COVD‑19, cujos tecidos fetais, incluindo sangue do cordão umbilical, foram analisados por RT-PCR quanto à presença do vírus SARS‑CoV‑2, não tendo sido possível detetar a presença deste agente infecioso em nenhum dos tecidos analisados.
Em 2021, uma metanálise mais alargada publicada no American Journal of Obstetrics and Gynecology, revelou a deteção do vírus em cerca de 3% das amostras de sangue do cordão umbilical testadas, demonstrando que a presença do vírus nestas amostras é possível, embora de baixa probabilidade.
Apesar da baixa probabilidade de existência do vírus no sangue do cordão umbilical colhido à nascença, os bancos de tecidos e células adaptaram os seus procedimentos de análise de risco, para que fosse incluída na análise da história clínica familiar a possibilidade de infeção por COVID-19 na grávida.
Esta investigação é habitualmente feita através de questionários que deverão ocorrer antes do parto, na altura do parto e, se necessário, após o parto em que ocorre a colheita da amostra de sangue do cordão umbilical.
No laboratório de tecidos e células da Crioestaminal, as amostras de sangue do cordão umbilical recebidas para criopreservação com vista à futura utilização clínica são sujeitas a investigação da história clínica familiar que, com a pandemia, passou a incluir a avaliação do risco de transmissão de SARS‑CoV‑2 para a amostra criopreservada.
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