Ricardo Mexia não tem dúvidas. Portugal falhou na antecipação da segunda vaga. "Inicialmente, o norte foi particularmente afetado, mais tarde, a zona de Lisboa e Vale do Tejo assumiu-se como a região com mais casos e, como seria expectável, no verão houve uma acalmia geral. Deveria ter sido nesse período que as autoridades deviam ter apostado numa filosofia que permitisse mais respostas quando os casos voltassem a subir", defende o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.
"Mas tal não se concretizou, não sendo realizado o devido planeamento. E, hoje, estamos a correr contra o tempo, a ser mais reativos do que proativos a uma situação que começou a crescer no final do verão, explodiu em outubro e pode ficar incomportável", critica o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública em grande entrevista à edição de janeiro de 2021 da revista Prevenir, já nas bancas de todo o país. O reforço de meios registado também foi, na opinião do especialista, insuficiente.
"A oferta, tanto nos hospitais como nas unidades de saúde primárias, também não foi a ideal e tudo isso tem contribuído para que, agora, tenhamos de correr atrás do prejuízo", reitera Ricardo Mexia. "É altura de mudar de atitude, mesmo face a essa fadiga pandémica que nasce de uma relação direta com constrangimentos sociais e perdas económicas. São muitos meses de restrições, de afastamentos de amigos e família, de regras impostas, mas a complexidade da situação deve ser um alerta para não se baixar a guarda, mesmo perante um aparente insucesso dessas medidas. É também o momento de fornecer estratégias que permitam a adoção de comportamentos seguros e adequados para minimizar danos e reduzir riscos", considera mesmo o médico de saúde pública.
"Esse crescimento tinha sido devidamente antecipado. Até pelo imperativo sazonal de que os vírus respiratórios circulam mais no outono e no inverno ou pela consciência do risco do regresso às aulas, o que implica uma maior mobilidade da comunidade estudantil, de pais e de familiares", alerta o especialista. "Mas o que tem causado maior impacto é a própria magnitude desta segunda vaga, a dificuldade em reduzir os números atuais e ter uma população mais protegida", acrescenta o dirigente associativo.
"O que todos queremos é que o número de casos baixe, sendo plausível a continuidade na aposta das medidas de restrições, mesmo até perante um esperado agravamento do número de infetados nas primeiras semanas de janeiro [de 2021], devido ao natural e muito aguardado contacto intrafamiliar do período natalício", antevevê o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. "É urgente melhorar a resposta aos doentes COVID-19, com o reforço de estruturas de retaguarda", defende ainda.
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