Com cerca de 4.300 habitantes, a maioria idosos, Avis é um dos oito concelhos do distrito de Portalegre, composto por 15 municípios, que não registaram até hoje nenhum caso associado à pandemia, segundo dados das autoridades locais de saúde.

“A população aderiu muito bem a todas as campanhas e tem tido os cuidados essenciais de higienização”, justifica o presidente do município, Nuno Silva, em declarações à agência Lusa.

Apesar de o concelho ter recebido durante o período de confinamento um “número significativo” de pessoas de outras zonas do país, o encerramento dos serviços públicos e a baixa densidade populacional contribuíram, segundo o autarca, para os resultados alcançados.

A delegada de saúde pública de Portalegre, Margarida Saudade e Silva, confessa ser “difícil” fazer uma análise interpretativa ao reduzido número de casos no distrito, considerando que a baixa densidade populacional “poderá ter contribuído” para os resultados.

Mesmo “pegado” a Avis, fica o concelho de Mora, já no distrito de Évora, também protegido pela “sorte” de a covid-19 ainda não lhe ter “batido à porta”, apesar de fazer também fronteira com Coruche (Santarém), município onde já se registaram cerca de 50 casos, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).

“Temos passado pelos intervalos da chuva, sobretudo graças a alguma sorte. Qualquer um de nós contactamos com outras pessoas, muitas vezes de fora do concelho”, afirma à Lusa o presidente da Câmara de Mora, Luís Simão, realçando que os habitantes da vizinha vila do Couço, em Coruche, que “chegou a ter 14 casos”, fazem “muito a vida” na vila alentejana.

Mas “a sorte também se procura” e “foi isso” que a câmara e os cerca de 4.500 habitantes fizeram durante a pandemia, enfatizou. O município adotou medidas para combater a propagação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e os moradores tiveram um “comportamento exemplar”.

Segundo dados desta semana recolhidos pela Lusa junto das câmaras e das autoridades de Saúde, dos 14 concelhos do distrito de Évora, Mora é um dos seis sem registo de qualquer caso de covid-19, ao longo da pandemia.

O delegado de Saúde Pública distrital, Augusto Santana Brito, apontou como exemplos à Lusa que “o isolamento do Alentejo, fator reconhecidamente negativo no desenvolvimento” da região, neste caso funcionou como “um fator protetor”, tal como a existência de uma população envelhecida e com menor mobilidade.

Mais a sul, quatro dos 14 concelhos do distrito de Beja não têm, até hoje, registo de qualquer caso de infeção pelo novo coronavírus: Alvito e Barrancos, os dois mais pequenos, Ourique e Vidigueira.

Com quase 1.800 habitantes, Barrancos tem conseguido “escapar” a casos de infeção apesar de fazer fronteira com Espanha e ter como um dos “vizinhos” o concelho de Moura, o mais afetado pela pandemia no Alentejo e onde já se confirmaram 80 infeções.

Apesar da proximidade geográfica com Espanha e Moura, a “aceitação cívica muito grande da parte da população” das regras de prevenção e as medidas adotadas por autoridades locais, como distribuição de equipamentos de proteção individual a instituições e à população, “aliadas à baixa demografia” podem “ajudar a explicar” não haver registo de qualquer caso no concelho, diz à Lusa o presidente da câmara, João Serranito Nunes.

Por outro lado, o fecho do ponto de fronteira entre Barrancos e Encinasola, “apesar de ter complicado a vida a várias pessoas”, nomeadamente trabalhadores fronteiriços e empresários, “teve um efeito positivo: o de ter travado o corrupio habitual entre os dois lados da fronteira, fruto do intercâmbio bastante aprofundado de relações económicas, sociais e culturais” entre os barranquenhos e os vizinhos espanhóis, frisou.

Portugal contabiliza 1.369 mortos associados à covid-19 em 31.596 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia divulgado na quinta-feira.

No Alentejo, segundo a DGS, há 257 casos de infeção confirmados e registo de um morto associado à covid-19.