No vale de São Joaquim, onde se concentra grande parte da comunidade de 347 mil lusodescendentes, as associações portuguesas cancelaram eventos e reuniões e os clubes fecharam temporariamente ou reduziram o seu horário.
"Apraz-me verificar a seriedade e o empenho do nosso movimento associativo da nossa comunidade de origem portuguesa na Califórnia", disse à Lusa o cônsul honorário de Portugal em Tulare, Diniz Borges. O responsável notou que esta é uma comunidade "mais idosa", em particular os emigrantes, e por isso congratulou-se com as medidas.
O encerramento das escolas e universidades está a levar os professores de língua portuguesa a procederem à transição temporária das aulas para sistemas online, "a fim dos alunos continuarem com acesso aos cursos e à aprendizagem da língua e cultura portuguesas", disse Borges, salientando o "empenho" dos docentes.
Noutra localidade do vale central, Gustine, o lusodescendente Zachery Ramos cancelou os maiores eventos por que era responsável na campanha "Make Portuguese Count", iniciativa do Conselho de Liderança Luso-americano (PALCUS) para contabilizar os portugueses no Censo 2020, que está a decorrer.
Ramos explicou que parte da comunidade portuguesa local concorda com as medidas decretadas, incluindo o encerramento das escolas até 17 de abril, "porque não querem pôr ninguém em risco de saúde".
O líder comunitário, que criou o programa Feeding Gustine para levar alimentos às crianças mais necessitadas, disse à Lusa que "muitos pequenos negócios em Gustine vão ser afetados" e que há receios e incerteza mas "todos estão a levar a situação a sério", mesmo os que acreditam que as medidas são demasiado drásticas e comparam a Covid-19 à gripe.
"Acredito que o que está a ser feito na comunidade é a coisa certa, porque não devemos colocar a vida de ninguém em risco", considerou. "Temos uma grande comunidade sénior em Gustine e não queremos que alguém seja infetado quando isso pode ser evitado".
Seguindo as diretrizes do governador da Califórnia, Gavin Newsom, também foi decidido o adiamento indefinido da 2º edição do Festival Português do Vale de São Joaquim, que deveria acontecer a 18 de abril em Turlock para angariar fundos para a iniciativa "Race for Autism".
"Vamos reunir-nos dentro de algumas semanas para decidir se marcamos nova data ainda este ano ou cancelamos e regressamos no próximo ano", explicou Elaina Vieira, presidente da Carlos Vieira Foundation, que organiza o festival patrocinado pela Portuguese Fraternal Society of America.
Elaina Vieira explicou que "há controvérsia na comunidade sobre se isto é mesmo necessário", referindo-se às medidas de contenção, mas disse que "a comunidade está preocupada" e "as pessoas estão a tentar fazer a sua parte".
É o que se passa também mais a sul, na comunidade de Artesia, Los Angeles, onde Eulália Baeta afirmou estar muito preocupada. Aos 61 anos, está no grupo de risco e por isso viu adiados procedimentos médicos que tinha programados para problemas na coluna.
"Está-me a dar muito medo", disse a portuguesa natural da ilha Terceira, contando que as prateleiras das lojas estão vazias e os eventos no hall português foram cancelados, incluindo uma noite de fados e uma festa de casamento.
"Isto está a passar-se no mundo inteiro, uma pessoa tem que levar isto a sério", sublinhou.
No domingo passado, Eulália já não foi à missa em português na Igreja da Sagrada Família de Artesia, onde o padre Luís Proença está a seguir as indicações da arquidiocese de Los Angeles.
"Neste momento a missa presencial continua e em simultâneo a transmissão da missa via Facebook e via RTA (Rádio Televisão Artesia) estão em efeito", disse à Lusa o padre Proença. "As confissões ainda existem neste momento, mas não existem nenhumas outras atividades paroquiais para além destas", explicou. "Os paroquianos estão apreensivos mas com fé".
Em Los Angeles, o empresário Tony Lima mantém o seu negócio de transportes a funcionar, referindo que considera "um exagero" as medidas tomadas pelo ‘mayor’ da cidade, que ordenou o fecho de bares, restaurantes, locais de entretenimento e ginásios até ao fim do mês.
"Muita gente vai ficar sem trabalho", afirmou. "Um americano não tem sequer 400 dólares de poupanças em média. Não vão poder pagar a renda da casa, comprar comida ou pôr gasolina no carro".
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, infetou mais de 200 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 8.200 morreram.
Das pessoas infetadas, mais de 82.500 recuperaram da doença.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou quarta-feira o número de casos confirmados de infeção para 642, mais 194 do que na terça-feira. O número de mortos no país subiu para dois.
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