Durante um encontro ‘online’ para a comunicação social com a participação de peritos da OMS, da África do Sul e do Gana sobre o surto de covid-19, a diretora regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, deixou um apelo: “Não podemos simplesmente voltar ao que era antes do surto”.

“Os bloqueios nacionais e regionais contribuíram para abrandar a propagação da covid-19, mas esta continua a ser uma ameaça considerável para a saúde pública”, disse Moeti.

A propósito do abrandamento dos bloqueios, que começa a registar-se em alguns países, a especialista referiu que se os Governos acabarem abruptamente com as medidas, os países arriscam-se a perder os ganhos que fizeram até agora contra a pandemia.

Até hoje, a África registou mais de 36.000 casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus e mais de 1.500 mortes. A África Ocidental e Central são as regiões que suscitam maior preocupação, com 11.000 casos e 300 mortos.

Na semana de 13 de abril, os casos aumentaram 113% na África Central e 42% na África Ocidental.

Mas os piores receios das autoridades de saúde pública e dos Governos ainda não se concretizaram. Até agora, a África tem sido poupada a uma explosão nos números de casos da doença.

A rápida atuação dos governos no sentido de impor medidas de bloqueio e distanciamento físico, a par de medidas de saúde pública eficazes para testar, rastrear e tratar a doença abrandaram a propagação do vírus.

O primeiro país a implementar um bloqueio na região africana da OMS foi o Ruanda, em 21 de março, tendo sido seguido, desde então, por 11 países. Outros 10 instituíram encerramentos parciais de cidades ou comunidades de alto risco.

Os dados preliminares indicam que os países que aplicaram o encerramento a nível nacional constataram que o aumento semanal do número de novos casos diminuiu significativamente, passando de um aumento de 67% na primeira semana após o encerramento para um aumento de 27% na segunda semana.

Além disso, a análise inicial indica que os países que adotaram bloqueios parciais e específicos, juntamente com medidas de saúde pública eficazes, podem ter sido ainda mais eficazes a abrandar o vírus.

“Estamos ainda a analisar os dados. Se a continuação da investigação corroborar as nossas conclusões iniciais de que as reclusões orientadas, baseadas em dados e acompanhadas de medidas de saúde pública, contribuem para nivelar a curva da covid-19, isso poderá ajudar a equilibrar os enormes custos sociais dessas medidas para os países”, afirmou Matshidiso Moeti.

Alguns países estão a começar a flexibilizar as suas medidas de confinamento, tendo o Gana sido o primeiro país a levantar o seu confinamento parcial, o que aconteceu em Accra e Kumasi.

No entanto, existem outras restrições e o Governo já advertiu que o fim do confinamento não significa o fim da pandemia.

Embora algumas empresas essenciais estejam a abrir as portas, continuam a não ser permitidas concentrações em massa e permanecem em vigor restrições ao número de passageiros dos transportes públicos.

O Governo continua a acompanhar os acontecimentos nos pontos críticos da covid-19 e declarou que, se necessário, restabelecerá os bloqueios localizados.

O Gana está também a realizar em média cerca de 30 testes ao novo coronavírus por 10.000 pessoas diariamente, o maior número na África Ocidental.

Por seu lado, a África do Sul está também a considerar a possibilidade de flexibilizar as suas medidas de confinamento e intensificou os seus esforços em matéria de testes.

Apesar dos progressos nos testes da covid-19, os países da região africana da OMS estão a realizar, em média, nove testes por 10.000 pessoas.

A OMS está a trabalhar no sentido de melhorar a capacidade de análises, enviando mais uma série de conjuntos de testes para países da África Subsariana.

A organização está a trabalhar no sentido de repor os fornecimentos e, nas últimas duas semanas, providenciou equipamento de proteção pessoal e outro equipamento crucial para países de toda a África, em parceria com o Programa Alimentar Mundial, a União Africana, os Centros Africanos de Controlo de Doenças, o Governo da Etiópia e a Fundação Jack Ma.