Segundo o estudo, realizado em conjunto com a organização não governamental Marshall Project, que estuda a justiça criminal norte-americana, em alguns estados, mais de metade dos prisioneiros foram infetados com SARS CoV-2.
Em dez meses de pandemia, e numa altura em que os norte-americanos começam a ser inoculados com a vacina contra a covid-19, pelo menos 275 mil reclusos foram infetados tendo-se registado 1.700 óbitos entre a população prisional.
Os últimos dados indicam que a transmissão da doença nos estabelecimentos prisionais norte-americanos “não mostra sinais de abrandamento”, tendo o pico mais elevado dos contágios sido atingido esta semana, ultrapassando os valores registados em abril e em agosto.
“Estes números estão subvalorizados”, disse à Associated Press Homer Venters, antigo diretor clínico do complexo prisional de Rickers Island, em Nova Iorque.
Venters chefiou recentemente mais de uma dezena de inspeções sobre a propagação da covid-19 em várias prisões dos Estados Unidos.
“Ainda encontro prisões onde as pessoas ficam doentes, não são realizados testes assim como não recebem tratamento. Por isso, ficam muito mais doentes do que deviam ficar”, acrescentou.
A nível nacional, a taxa de mortalidade por covid-19 nas prisões é 45% mais elevada do que no resto da população.
Dakota do Sul, Arkansas e Kansas são os estados onde as prisões foram mais afetadas pela pandemia.
Quatro em cada sete reclusos do estado do Arkansas (9.700) contraíram o SARS CoV-2, o segundo valor mais elevado entre reclusos em todo o país, e 50 morreram.
No Kansas, mais de metade (5.100) dos prisioneiros estão infetados, oito vezes mais do que o resto da população do estado.
Onze reclusos e três guardas prisionais morreram nas prisões do Kansas.
Os números avançados pela Associated Press foram calculados com base em informações recolhidas desde o passado mês de março, até à última terça-feira.
Na realidade, o número de infeções e de óbitos pode ser mais elevado, dado que o sistema prisional tem menos reclusos neste momento do que no início da pandemia.
Segundo a Marshall Plan, os valores representam “uma estimativa conservadora”.
Com o início da vacinação, que começou esta semana, levantam-se novas preocupações porque em alguns estados algumas forças políticas defendem que as doses não devem ser administradas aos reclusos na primeira fase do processo de inoculação.
“Nem pensar em dar vacinas já aos prisioneiros (…) primeiro devem ir para as pessoas que não cometeram crimes”, disse no início do mês o governador do Colorado Jared Polis.
Em mais de dez estados, o plano de vacinação não menciona a inoculação de prisioneiros ou de funcionários prisionais, denunciou, entretanto, o grupo independente Prision Policy Initiative.
Pelo contrário, sete estados colocaram a população reclusa na primeira linha do programa de vacinação a par de outras populações que têm de lidar com pessoas em espaços fechados como lares de terceira idade e enfermarias.
Outros 19 estados colocaram os prisioneiros na segunda fase do programa de vacinação.
Desde os primeiros tempos da pandemia que os especialistas em saúde pública defendem que a libertação de prisioneiros é a melhor forma de inverter “a curva” de infeções atrás das grades.
Os estabelecimentos prisionais norte-americanos estão geralmente lotados e são pouco ventilados.
Os dormitórios e os refeitórios impedem o cumprimento de quarentenas, sendo que a população prisional está mais exposta a doenças do que o resto da sociedade.
Em outubro, a Academia Nacional das Ciências, Medicina e Engenharia divulgou um estudo que apelava as autoridades a retirar das prisões os indivíduos mais vulneráveis em termos de saúde, sobretudo aqueles que estão prestes a concluir as penas de cadeia ou que não representam um risco para a segurança pública.
As libertações foram poucas: nos primeiros meses da pandemia mais de 10 mil pessoas que se encontram presas em estabelecimentos federais pediram para serem libertadas.
A maior parte não obteve resposta, sendo que apenas 156 pessoas viram o pedido atendido, cerca de 2% do total.
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