Esta é uma das conclusões, "e talvez a mais preocupante", do estudo, destacou em comunicado Mauro Paulino, psicólogo clínico e forense, coordenador da Mind e um dos responsáveis da investigação, que também contou com a colaboração do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade Autónoma de Lisboa e do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro.
Através de um questionário ‘online', que esteve disponível durante três dias (entre 24 e 27 de março), ou seja, três semanas após terem sido confirmados os dois primeiros casos em Portugal e oito dias após a primeira morte por causa do novo coronavírus, foram obtidas 10.529 participações, com uma média de idades de 31,3 anos, e na sua maioria mulheres (8.785, correspondentes a 83,4% do total).
Mauro Paulino sublinhou que este trabalho contou com "uma das mais expressivas amostras, inclusive internacionalmente, sobre os danos psicológicos imediatos da COVID-19 sobre a população em geral", tendo como objetivo avaliar o impacto psicológico imediato da pandemia de COVID-19 na sua fase inicial, bem como a sintomatologia de ansiedade, depressão e ‘stress’ entre os portugueses.
"Agora, é possível pronunciarmo-nos com base em dados rigorosos e nacionais", assinalou o psicólogo Rodrigo Dumas-Diniz, também responsável da investigação.
Os resultados obtidos permitem identificar vários fatores de risco, "mostrando que é necessária uma atenção especial para as mulheres, os desempregados, os que têm menos escolaridade, os que vivem em zonas rurais e os que experienciaram sintomas de gripe ou doenças crónicas", lê-se no comunicado.
Já a comparação dos resultados obtidos em Portugal com investigações chinesas mostra "diferenças importantes", sublinharam os responsáveis, revelando que apenas 7,6% dos participantes chineses relataram um impacto psicológico moderado a severo.
A explicação para a discrepância neste capítulo pode estar relacionada com a maior quantidade de informação dos participantes portugueses, uma vez que o surto chegou a Portugal várias semanas depois de ter surgido na China, e após uma grande cobertura mediática sobre o tema.
"A quantidade e a qualidade da informação recebida influenciam as reações psicológicas dos consumidores, pelo que, é recomendável que a mesma esteja limitada a informações oficiais e credíveis", frisou Mauro Paulino.
O estudo português mostra, tal como as investigações na China, que as participantes do sexo feminino relataram um maior impacto psicológico da pandemia, bem como maiores níveis de depressão, ansiedade e stresse.
"As mulheres parecem correr um risco elevado de sintomas psicológicos, o que nos orienta sobre a urgência da intervenção", comentou Rodrigo Dumas-Diniz.
No total, 11,7%, 16,9% e 5,6% dos participantes relataram sintomas moderados a graves de depressão, ansiedade e níveis de ‘stress’, respetivamente.
"Existe o risco de que a prevalência de números clinicamente relevantes de pessoas com ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental aumente", alertaram os investigadores, considerando que os dados também indicam que os indivíduos sem perturbações mentais anteriores mostraram um impacto psicológico negativo imediato devido à pandemia.
Por seu turno, Sofia Brissos, médica psiquiatra que também integra a equipa de investigação, considerou que "serão os estudos longitudinais que irão demonstrar se, após o impacto inicial da pandemia, existe uma tendência para a estabilização, uma diminuição ou um agravamento dos sintomas psicológicos, especialmente, quando se sabe que os efeitos psicológicos podem persistir mesmo após o fim da pandemia".
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de COVID-19 já provocou mais de 217 mil mortos e infetou mais de 3,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Perto de 860 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 973 pessoas das 24.505 confirmadas como infetadas, e há 1.470 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
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