"Julgo que a Europa está a enfrentar a primeira ronda da epidemia e deve tomar medidas mais proativas. Não esperar até que seja tarde demais e se torne mais doloroso", defendeu Zhong, numa conferência de imprensa em Cantão, no sul da China.
O médico destacou a importância de realizar mais testes da infeção e de proteger os profissionais de saúde.
"Existem países europeus que isolaram cidades inteiras, mas as pessoas saem para tomar café, encontram-se (...) Não é assim que este tipo de quarentena funciona", disse o pneumologista chinês, de 83 anos, que teve um papel de liderança durante a luta contra a epidemia da pneumonia atípica no país asiático, em 2003.
Zhong acrescentou que são necessários outros esforços, incluindo isolar todas as pessoas que tiveram contactos próximos com pacientes da doença, mesmo que não apresentem sintomas.
Segundo o médico, na capital da província de Hubei, Wuhan, a cidade de onde o surto é originário, houve inicialmente pouca consciência sobre o vírus e as medidas de prevenção foram insuficientes, levando a uma rápida disseminação, incluindo entre muitos profissionais de saúde.
O mais importante é "protegerem-se primeiro e depois aos outros", pelo qual as pessoas devem evitar multidões, usar máscara e, acima de tudo, "fazer testes, testes e mais testes" de deteção do vírus, afirmou.
"Muitos médicos que estavam na linha de frente ficaram infetados. Se os médicos forem infetados, perde-se a confiança necessária para vencer a batalha. Enviamos para Wuhan quase 40.000 médicos de outras cidades, equipados e com a capacidade necessária. A sua proteção foi a chave da vitória", afirmou.
O pneumologista também contrariou a tese de que se deve deixar o vírus espalhar de forma a criar imunidade de grupo: "não existem dados que sustentem que uma pessoa curada esteja curada para toda a vida. Devemos cooperar mais, trabalhar juntos em todo o mundo para encontrar soluções".
"Diferentes países têm uma compreensão diferente de como combater o vírus, mas devemos compartilhar experiências. Lutamos com o mesmo objetivo. Esta é uma epidemia e nenhum país está seguro", alertou.
A China, que já declarou que o pico das transmissões chegou ao fim, deve "permanecer alerta", especialmente para casos importados de outros países, segundo Zhong.
"Na China temos agora que trabalhar na prevenção, pois tentamos voltar ao trabalho e à produção", disse.
"Conseguimos reverter o pico da epidemia graças ao que fizemos em Hubei. Se não o fizéssemos, a situação seria muito diferente agora", indicou.
Quinze cidades da província de Hubei foram colocadas sob quarentena, com entradas e saídas bloqueadas.
O médico apontou ainda que, de acordo com os dados, a taxa média de mortalidade do vírus está entre 1% e 2% dos infetados.
A Comissão Nacional de Saúde da China informou que ao início do dia de hoje (16:00 de terça-feira, em Lisboa), o país somava 3.237 mortes entre as 80.894 infeções detetadas desde o início do surto.
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