Os dados oficiais dão força à campanha que as autoridades têm procurado passar de um território livre de covid-19: há cerca de sete meses sem registar casos, há quase dez meses sem identificar contágios locais, sem contabilizar qualquer morte ou infeções entre profissionais de saúde.

De resto, é preciso olhar para o ‘ranking’ da plataforma ‘online’ Worldmeter, que reúne estatística mundial sobre a pandemia, para descobrir Macau no fundo da tabela de casos e óbitos, ‘concorrendo’ com territórios como Ilhas Salomão, Samoa, Micronésia, Vanuatu, Cidade do Vaticano e Ilhas Marshall.

A 22 de janeiro, as autoridades de saúde anunciaram o primeiro caso, uma mulher natural da cidade de Wuhan, no centro da China, onde se crê que teve origem a pandemia, que acabou por infetar perto de 100 milhões de pessoas e a causar mais de dois milhões de mortos a nível mundial.

Um padrão nas diferentes vagas, em que foram identificados dois contágios locais relacionados com os casos importados: a celeridade das medidas e das restrições decididas pelas autoridades, tanto fronteiriças como dentro do território, com destaque para o inédito encerramento dos casinos, o motor da economia de Macau, capital mundial do jogo.

Em Macau vivem pouco mais de 685 mil habitantes em pouco mais de 30 quilómetros quadrados, um dos territórios mais densamente povoados do mundo, um dos elementos ao nível da transmissão de vírus que as autoridades de saúde reconhecem como de risco acrescido.

No final de janeiro, dois dias após ter sido detetado o primeiro caso em Macau, as autoridades avançaram para a venda racionada de máscaras, cujo uso se tornou obrigatório nos transportes públicos e nos serviços públicos.

A cada dez dias, cada pessoa pode adquirir dez máscaras em cerca de meia centena de farmácias convencionadas no território, a um preço reduzido: oito patacas, ou seja, menos de um euro.

Logo no início de janeiro, mal Pequim decidiu avisar o resto do mundo sobre o vírus altamente contagioso identificado em Wuhan, Macau avançou para o reforço da medição da temperatura corporal nos postos fronteiriços, com a medida a alastrar para quem quisesse entrar nos casinos, serviços públicos e, mesmo hoje, em alguns casos, simplesmente no acesso às habitações.

Em março, em entrevista à Lusa, um representante dos serviços de saúde explicou que 40% dos casos tinham sido detetados precisamente através da medição da temperatura corporal, uma decisão que se pode também explicar pela experiência em outros ‘combates virais’, como foi o caso em 2009/2010, com a gripe suína.

Macau fechou então escolas, estabelecimentos de diversão noturna e espaços desportivos, remeteu os funcionários públicos para o teletrabalho e encaminhou milhares de residentes que entraram no território para hotéis onde foram obrigados a cumprir uma quarentena de 14 dias (entretanto alargada para 21 dias), com ‘direito’ a testes regulares de despiste à covid-19.

Hoje, ainda, e apesar de Macau não registar casos há cerca de sete meses, é muito raro descobrir pessoas sem máscaras na rua, ainda que a lei não obrigue a tal.

As mesmas pessoas que se isolaram em casa assim que foram anunciadas as ações de prevenção iniciais, mesmo que o Governo não tivesse determinado, mas apenas aconselhado o confinamento.

O histórico no combate a outros vírus ajudou também a delinear a estratégia a seguir pelas autoridades de saúde para proteger, com sucesso, o pessoal da linha da frente.

Os profissionais de saúde trabalharam por turnos de 14 dias, equipados com material de proteção individual, que incluía óculos, luvas e máscaras. E, uma vez revezados, seguiam para uma quarentena de outros tantos dias, cumprida numa residência anexa ao local onde prestaram tratamento aos primeiros infetados, num total de 46 desde o início da pandemia.

À exceção da China, na prática, Macau mantém as fronteiras fechadas a todos aqueles que não possuam o estatuto de residentes, obrigando-os, ainda assim, quando regressam, a uma quarentena obrigatória de 21 dias num quarto de hotel.

Macau não regista casos há cerca de sete meses, está há quase dez meses sem identificar contágios locais e sem contabilizar qualquer morte ou infeções entre profissionais de saúde.

A pandemia de covid-19 causou mais de dois milhões de mortos e perto de 100 milhões de infetados em todo o mundo.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China, com Macau a ser um dos primeiros territórios do mundo a ser atingido pela pandemia.