Em entrevista, por escrito, um ano depois da chegada do novo coronavírus a Portugal, Rui Leite de Castro, responsável pela instituição que representa 410 IPSS, negou que os surtos que foram acontecendo de Norte a Sul do país em lares de idosos ameace o setor.
"É curioso que sentimos o contrário. Diversos relatos chegaram à união sobre o aumento das pré-inscrições em ERPI devido ao encerramento dos Centros de Dia", argumentou Rui Leite de Castro.
Ciente de que, para essas pessoas, a resposta social ERPI "não é a escolha perfeita, já que a melhor solução para a família é manter os seus entes queridos em coabitação", enfatiza a sua importância por "tratar-se de uma necessidade, de uma resposta em última linha".
Sobre o medo, o responsável da União Distrital do Porto disse terem sido "as pessoas idosas" quem mais o manifestou, sublinhando, contudo, que este não foi "dirigido à estrutura residencial em si, mas sim à pandemia".
Sobre a necessidade de repensar estas respostas fruto da aprendizagem forçada pelos últimos 12 meses, Rui Leite de Castro alertou tratar-se de um "setor altamente legislado, deixando pouco lugar para a inovação".
"O Estado e o mercado dificilmente conseguem resolver este problema social. Apenas em conjunto com a comunidade o conseguem fazer com qualidade e menor custo. As instituições estão a profissionalizar-se, com recursos humanos qualificados e estão constantemente a reinventar-se de forma a conseguir resolver um problema em constante mutação", acrescentou.
Neste percurso, o presidente da UDIPSS do Porto frisou que a "forma como o Governo apoiou as instituições na pandemia foi, por vezes, desajustada e com efeitos tardios".
Como exemplo, citou o programa MAREESS [Apoio ao Reforço de Emergência de Equipamentos Sociais e de Saúde] que disse ser "muitas vezes de difícil, ou quase impossível, implementação" e as "regras sobredimensionadas no Programa Adaptar Social +, com legislação tardia e logo, com efeitos hipotecados".
"Houve, contudo, por parte do Governo, a garantia da sua comparticipação financeira com referência a fevereiro de 2020, independentemente da frequência dos clientes nos meses posteriores, uma decisão de extrema importância para a sustentabilidade das IPSS", acrescentou o responsável.
Para Rui Leite de Castro, as IPSS tiveram "um papel importantíssimo na pandemia, continuando a prestar o serviço aos seus benficiários/clientes em casa e abriram as suas creches e jardins-de-infância para os filhos dos trabalhadores essenciais".
"Não confinaram", salientou.
As 410 IPSS que a União Distrital do Porto representa empregam cerca de 15.900 trabalhadores, englobam 1.200 respostas sociais que atingem 247.000 beneficiários.
"Sob o tema voluntariado, não posso deixar de realçar, o trabalho gracioso e com responsabilidade civil que os membros dos órgãos sociais têm nestas instituições, e que, sem estes agentes de solidariedade social, poder-se-ia ter visto em Portugal casos como os que ocorreram, por exemplo em Espanha, de abandono dos idosos nos lares", acrescentou.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.805.004 mortos no mundo, resultantes de mais de 128,1 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 16.848 pessoas dos 821.722 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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