O trabalho “Um mês em tempos de COVID-19”, dos investigadores Vasco Ricoca Peixoto, André Vieira, Alexandre Abrantes, analisou os números da Direção-Geral da Saúde (DGS) desde o registo do primeiro caso de infeção, em 02 de março, e observou uma aparentemente “menor ferocidade” da doença no país face ao que se passa em Itália ou Espanha - os dois países mais fustigados pelo novo coronavírus, SARS-CoV-2, ambos com mais de 10.000 vítimas.
“A informação disponível sugere que o número de casos e de óbitos em Portugal está a crescer mais lentamente do que em Espanha ou Itália”, pode ler-se no documento a que a Lusa teve acesso, embora tenha sido feito uma ressalva ao “cuidado” necessário na interpretação e comparação dos dados a nível internacional. A corroborar esta análise está o crescimento de novos casos, cujo ritmo médio de 23% caiu para 9,79% no final de março.
Para os investigadores, “a diferença pode ser explicada pelo facto de alguns países terem serviços de saúde com melhor capacidade” para doentes com COVID-19, por “alguns países terem testado uma maior proporção da população”, o que ditou mais casos e a variação na taxa de letalidade, e por a pandemia ter chegado mais tarde ao país, “dando tempo para implementar cedo medidas de distanciamento social e adaptar os serviços de saúde”.
Por outro lado, o estudo apontou que em Portugal a maior parte dos infetados “tiveram sintomas ligeiros, sendo que 726 (8,8%) dos casos notificados foram internados”. Destes números, somente 230 (2,8%) foram alvo de internamento em unidades de cuidados intensivos (UCI), mas “desde o dia 25 de março regista-se um aumento da proporção dos casos internados em UCI, um aumento paralelo ao que se observa na taxa de letalidade”.
A nível demográfico, a investigação notou que “a infeção não se manifestou de igual forma em diferentes idades e sexos”, já que as mulheres registaram uma maior incidência em todas as faixas etárias, exceto no segmento de mais de 60 anos, mas são os homens a denotar uma maior taxa de letalidade, sobretudo acima dos 50 anos. Ainda assim, é admitida uma possível menor deteção de casos no sexo masculino.
Quanto às assimetrias regionais da COVID-19 no país, que evidenciaram um avanço mais precoce no norte, em particular na área metropolitana do Porto, o trabalho do Centro de Investigação em Saúde Pública da ENSP deixou um alerta: “As regiões que agora apresentam menos casos poderão ser aquelas onde o vírus chegou mais tarde e ainda não teve oportunidade de se espalhar na comunidade”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da COVID-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 55 mil. Dos casos de infeção, cerca de 200 mil são considerados curados.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 246 mortes, mais 37 do que na véspera (+17,7%), e 9.886 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 852 em relação a quinta-feira (+9,4%).
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