“Neste momento já não podemos negar que estamos numa 4.ª vaga, de características diferentes, mas real. É o momento de todas as estruturas se coordenarem e verificarem os seus planos de contingência”, alertou o diretor da Unidade Autónoma de Gestão (UAG) de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), Nelson Pereira.
O médico falava aos jornalistas à porta do Serviço de Urgência do Hospital de São João, um dia depois de ter revelado à agência Lusa que este serviço tem sentido um aumento de 40 a 50% de casos suspeitos covid-19.
Este número repercute-se numa taxa de positividade que aumentou dos 1 a 2% registados nos últimos três meses para 10 a 15% nos últimos cinco dias.
“E ontem [terça-feira] chegamos praticamente aos 20%”, acrescentou Nelson Pereira.
Analisando estes dados, o diretor da UAG do CHUSJ reforçou a ideia de que “isto significa que a pandemia está a progredir na região Norte”, razão pela qual reforçou o alerta de que “é preciso controlar este processo antes que se chegue à situação de acréscimo de internados”.
“Isto para o Hospital de São João, que foi sempre desde a primeira vaga um hospital sentinela na região Norte, é uma situação preocupante. Esperávamos que pudesse não acontecer o alastrar da situação da região de Lisboa à região do Porto. Mas neste momento isso é inequívoco: já aconteceu”, referiu o médico.
Questionado sobre a preparação do hospital, Nelson Pereira contou que, na terça-feira, a tenta montada à porta do Serviço de Urgência “serviu pontualmente de tampão para receber doentes antes da entrada destes na estrutura central do edifício”.
Os contentores e a tenda estão “prontos para ser usados se necessário”, garantiu.
Na terça-feira, à Lusa, Nelson Pereira mostrou preocupação com as repercussões dos festejos de São João no Porto e relatou que têm recorrido ao Serviço de Urgência pessoas de outras nacionalidades, uma população que hoje o médico descreveu como “sensível do ponto de vista social” e que “está a ser afetada por esta crise”.
“A expectativa que temos para os próximos dias é que o crescimento que sentimos nos últimos dias continue nos próximos dias [devido aos festejos de São João]. Há uma população mais sensível do ponto de vista social que está a ser afetada por esta crise. São várias as nacionalidades: marroquinos, indianos, italianos, brasileiros”, sintetizou esta manhã.
Quanto à dificuldade de acesso às ADR – que são Áreas dedicadas a Doenças Respiratórias, estruturas criadas ao nível dos cuidados de saúde primários – bem como à linha de SNS24, hoje o médico reforçou a ideia de que “é importante que os responsáveis dessas estruturas conheçam essas dificuldades para poderem intervir”.
Recusando olhar para este cenário “com dramatismo” e reforçando que “neste momento o aumento de casos não tem repercussão significativa no internamento”, Nelson Pereira deixou, no entanto, uma mensagem à população que prepara as férias de verão.
“Mantenham os cuidados de proteção. Qualquer sintoma que tenham devem contactar o SNS24 porque cada hora ou cada dia que passa em que isso não é feito são mais contactos e mais contágios, e isso é que faz a progressão exponencial da pandemia. Minimizem os contactos com pessoas com quem não coabitem. É possível ir à praia, mas se estiverem em sítios fechados com outras pessoas: sempre com máscara. Isto não tem segredo. Num ano e meio já todos devíamos ter aprendido e infelizmente ainda não aprendemos”, concluiu.
De acordo com dados de terça-feira, no Hospital de São João estão internadas 22 pessoas com o novo coronavírus, das quais 14 em cuidados intensivos e oito em enfermaria.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.925.816 mortos no mundo, resultantes de mais de 181 milhões de casos de infeção, enquanto em Portugal morreram 17.092 pessoas e foram confirmados 877.195 casos de infeção.
A doença respiratória é provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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